Isto não é uma resenha. Resenha é moda agora. Todo mundo virou crítico. É uma crônica-artigo. Uns viadinhos aí vão dizer que isso não existe, mas existe! É a minha crônica-artigo.
Aqui é Dona Menô. Tudo bem?...
Eu hoje trabalhei que nem uma louca... Fui à piscina, dei uns mergulhos e peguei sol. Só que lá no "crube" tem uma maluca que gosta de aparecer. Ela e outras barangas que chegam às 6 horas da madruga para poder pegar cadeiras e mesas e ficarem que nem umas marmotas ao sol.
Pior ainda: se elas ficassem caladas seria ótimo. Mas abrem a boca. E isso me causou tal irritação que eu vim correndinho pra casa, e decidi lavar cortinas, passar cortinas e pendurar cortinas.
Aí, comecei a ouvir dos apartamentos vizinhos coisas bem mais ferinas aos meus ouvidos: música de louvação a Deus. Não gosto dessas músicas. E eu as ouço todos os dias! E, para complementar o infeliz repertório, o porteiro tem um teclado e acha que é uma mistura de Belchior com Fagner. Eu quero acabar com todos os paus de arara, até o último!
Bem, como estou em fase de dieta e exercícios, resolvi levar na esportiva e liguei meu som para dançar, enquanto fazia esgrima com o ferro elétrico. Peguei qualquer CD que me veio à mão e coloquei na agulha...
Surpreendi-me com o som claro e equalizado de Nana Caymmi em minha casa. Nana cantava no disco As Canções de Dolores Duran, da gravadora EMI, mas o ano não dá pra ver porque eu quebrei meus óculos na faxina.
Lindo... Se eu soubesse cantar, teria no mesmo timbre de Nana, que, mesmo fanhosa, é incomparável, não tem substituta. Só ela sabe cantar daquele jeito. Ela é igual ao pai, Dorival Caymmi, falecido recentemente, mas na forma feminina.
Por outro lado, Dolores Duran, uma vida de altos e baixos, excelente artista, tem o mesmo estilo que eu. Ela fez versinhos simples, concordâncias banais, mas de uma inteligência sem par (Não adianta. Eu sou besta e pronto).
Dolores esteve à frente de sua época e tem lindíssimas canções que a gente nem sabe que são dela. Todos cantam em festinhas de cinquentões embriagados: "Por causa de você", ou "Castigo", ou "Estrada do Sol", "A noite do meu bem" e por aí vai...
Só que uma canção me fez parar de desamassar nervuras: "Solidão". Ela diz: "Ai, a solidão vai acabar comigo. Ai, eu já nem sei o que faço e o que digo. Vivendo para o sonho de esperar. Alguém que ponha fim ao meu tormento. Eu quero qualquer coisa verdadeira. Um amor, uma saudade. Uma lágrima, um amigo. Ai, a solidão vai acabar comigo...".
Eu quase chorei. Senti-me deprimida... Depois eu pensei: "Ué... Como eu posso ficar na fossa se eu não tenho motivo pra estar na fossa?!". TPM não é justificativa, porque eu to na menopausa, que, aliás, tem situações emocionais semelhantes.
Não era bem deprê. Acontece que Nana, com aquela voz quase que bêbada, interpretando uma mulher que foi a boêmia do amor, me deixou num nirvana incrível...
Decidi pular a faixa e ouvi a coisa mais linda do mundo. Até então eu pensava que era de Sílvio César, pois era com ele que eu memorizei a música: "Noite de Paz".
Passo aqui a letra. É com ela que eu vou dormir. Esta, sim, simboliza meu astral atual.
Dá-me, Senhor Uma noite sem pensar Dá-me Senhor Uma noite bem comum Uma só noite em que eu possa descansar Sem esperança e sem sonho nenhum Por uma só noite assim posso trocar O que eu tiver de mais puro e mais sincero Uma só noite de paz pra não lembrar Que eu não devia esperar e ainda espero. Vejam também: