Eu estava a tantos metros de altura... Ah, como eu estava tão longe e acima de tudo... Eu estava tão distante de tantos aborrecimentos e de tantos castelos destruídos! Amarguras e decepções: palavras comuns, mas difíceis de serem digeridas. Não por elas em si, mas pelo que causaram na vida de alguém que não as quis e não as procurou - e não as mereceu.
Eu estava à solta e solta; eu estava sem proteção, sem chão. Eu não era garça, porque garça sabe aonde vai e tem seu bando. Eu não era gaivota, porque gaivota tem seu rumo. Nem por isso era urubu, porque até ele tem seu propósito. Eu estava mais para feto, diante de tanta imensidão...
Eu me sentia abrigada, mesmo solta no ar. Sentia o calor da Terra; eu sentia o vazio que nos une, nós os seres humanos - a síntese da vida.
Por um momento eu fui plena neste céu que eu retrato. Minha máquina fotográfica obviamente não colocou pra todos o que eu enxerguei, então briguei com ela à bessa! Ela insistia em ser inferior ao que eu via!
Desisti e relaxei... Esqueci de fotografia e pensei em minha vida. Nestes montes lá em Nova Friburgo, longe, muito longe da capital, mas no Rio de Janeiro, semanas atrás, eu senti o quanto sou pequena, mas o quanto são menores certas pessoas que passaram por mim, da mesma forma que percebi o quanto são grandes outras que continuam na minha vida ou fazem parte dela hoje.
Uns morrinhos sem edição, que não valem nada para uma fotógrafa, mas que merecem uma crônica de uma pretensa escritora.