Clube da Menô

A minha vida só é possível incrementada!

Textos

As mulheres da semana

- “Cuidado para não ser ludibriada por namoradinhos...”.

- “Leila, eu ainda não posso abranger seu vocabulário! Fale de um modo que eu entenda!”.

Foi assim que uma menina de 16 anos me desarmou ontem... Ela nasceu pelas minhas mãos e então estava diante de mim, tentando ser uma mulher, e ainda uma menina. Mas, ao me repreender daquela forma, me levou pra muitos anos atrás, quando fui pela primeira vez a uma ginecologista sozinha.

Naquela época a gente não tinha as facilidades de hoje. Muito menos tínhamos nossas mães ao nosso lado, como foi no caso de hoje, com aquele menina. Ouvi daquela quase mulher tantas dúvidas, tantas incertezas, disfarçadas em rebeldia, que me vi em seu lugar: menina e muito assustada com o mundo atual, com minhas mudanças hormonais e um monte de coisas pra enfrentar.

A juventude de hoje tem à sua frente não só a educação familiar, mas os desafios de sermos aceitos na sociedade, sermos admirados e de nos autovalorizar. Um jovem hoje não tem apenas a educação de casa, mas a do mundo - que muitas vezes supera ou prejudica o que os pais querem passar aos filhos.

Esta menina sempre foi extremamente inteligente, e eu sabia disso. Tentei falar com ela no nível que achei possível alcançar, e ela disse em outras palavras: “Sou ainda criança em certas coisas!”. Mudei de assunto e chegamos a uma “séria conclusão”, tão surreal quanto Salvador Dali: ela gosta de cozinhar e sua mãe não a deixa chegar perto da cozinha. Então, combinei com ela de fazermos juntas uma fondue:

- “O que é fondue?!”.

- “Marcaremos para fazermos juntas este prato, e chamaremos sua mãe para comer a gororoba”.

A consulta passou de um drama sério para uma “quase” brincadeira. Eu recomendei à mãe que a colocasse num curso de culinária (Quem sabe ela não vira chef?...). Dei conselhos sobre estudar, se formar, se diferenciar no mercado de trabalho e ficar adiante dos pobres mortais. Falei tantas coisas, mas o que importava mesmo era o cabelo dela, que foi queimado, como o meu, pela escova progressiva. Nós duas estávamos no mesmo barco: ela, com seus dramas de adolescente; eu, com os meus dramas de uma candidata à menopausa.

O sorriso era tudo. Eu a olhava como uma filha e sentia a aflição de uma mãe diante de uma personalidade em formação:

- “O que sua mãe quer é que você seja criança enquanto possa. Aproveite os seus últimos momentos de infância e se prepare para a vida adulta de uma forma inteligente”, dizia eu. Ela fingia indiferença, mais interessada no dia de fazermos juntas a fondue, fosse lá o que fosse isso...

Nesta semana eu estive junto de mulheres com personalidades diversas, como sempre foi minha vida profissional. Conheci uma fonoaudióloga e escritora, que muito me interessou pelo seu trabalho. Tive contato com uma repórter que fez uma entrevista comigo sobre o meu site, mas eu tive que retirar todo o trabalho do ar por situações éticas, pois envolvia um laboratório de renome. Estive diretamente em contato com pessoas com doenças graves ou podem se tornar graves. E vi gente chorar disfarçadamente para não perder a pose.

Abracei muita gente. Senti o calor de pessoas que gosto muito e com quem tenho anos de convívio esporádico. Pessoas que me dizem: “Por que só fala em doença?! Porque não falamos sobre coisas mais agradáveis?!”.

Porque alguém tem que fazer o trabalho “sujo” – ou limpo – não é?...

Uma leitora me escreveu assim:

- “Você errou! A frase que atribuiu a Clarice Lispector é de Cecília Meirelles! Faça de novo seu PPS, que, então, eu encaminharei para meus amigos”.

- “Sim, senhora... Reconheço o erro e neste momento estou corrigindo o engano...”.

Uma super cantora brasileira me ensinou: "Conjugue na primeira pessoa do singular aquele verbo. Apesar de o objeto direto ser composto, o "ou" muda tudo". Complicado pra minha cabeça, mas acho que ela estava certa - e modifiquei um PPS...

Enquanto isso alguém me diz que o texto de Rohden está totalmente diferente do livro editado em 2007... Eu o copiei da primeira edição:

- “Qualquer coisa escrita depois da morte dele, não foi ele quem escreveu, po!”.

Enquanto isso, eu publico um artigo falando bem do governo, num fato ocorrido recentemente, quanto ao serviço de saúde em pronto atendimento. Aí, vem uma leitora e diz que não conseguiu dormir de tão nervosa, justamente porque não conseguiu atendimento médico decente, indo contra toda a minha visão de melhora desse sistema de saúde pública...
Dilemas, muitos dilemas. A saúde do povo vista por quem se acha imortal; discordâncias na literatura; diferenças sociais, conflitos familiares e de educação; pessoas doentes enfrentando uma barra pesada.

Gente bonita e inteligente entrando na minha vida... E acabo de conversar com um grande amigo sobre as dificuldades de nos mantermos financeiramente num Brasil cheio de contrastes e tantas injustiças.

Parece um texto muito estranho para todos, eu sei... Mas foi minha semana até agora. 

Alguém me perguntou esta semana se eu sabia ouvir as pessoas - estou aprendendo...

Leila Marinho Lage
Rio, 23 de setembro de 2008
http://www.clubedadonameno.com

Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 24/09/2008
Alterado em 24/09/2008
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