Clube da Menô

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Textos

Arpoador
Agosto a gosto

Chego a Copacabana, bem pertinho do forte. Barcos me recebem silenciosamente e me convidam a estar, apenas estar. Talvez apenas ser...

E imaginar que na década de 50 e 60 este pedaço do Rio de Janeiro foi reduto dos maiores representantes da bossa nova. Fico em reminiscências, enquanto o povo trabalha e turistas são substituídos por moradores.

O forte de Copacabana, também mirante, onde se toma um bom café com chantilly, anuncia que eu sou um turista acidental, num dia de semana, em pleno agosto de sol tímido.

As pedras do Arpoador dividem Copacabana e Ipanema. Entre os dois bairros, a pequena praia do Diabo avisando que de diabo não tem nada... Mais que simples divisão geográfica, nestas rochas Menescal, Lira, Jobim e tantos outros criaram músicas para sempre cantadas. Aonde Vinícius de Moraes compôs as letras de sua própria vida, conversando com o mar em sua genialidade.

Testemunho o outro lado da “pedra”, o outro lado do (meu) mundo, à frente do morro Dois Irmãos. A praia de Ipanema, a mais cantada e encantada de todos os tempos, a me desafiar: “Você é um simples ser humano. Eu sou a eternidade marcada pela história”.

Lá adiante, o arquipélago das Cagarras. “Arpoado” pelo Rio, adivinho um paraíso submerso e emerjo da imensidão, mas a ela integrado. Estou com uma grande cidade às minhas costas, e ao mesmo tempo buscando a natureza, minha natureza.

As baleias abatidas deram nome ao Arpoador, mas foram das melodias lá nascidas, que até hoje compõem nossas lembranças, que o Rio de Janeiro extraiu o que de mais magnífico existiu na cultura de uma geração.

A gente alcança o topo das pedras, toca a areia, cheira o mar. A gente está num lugar que é mais do que bonito. Ali reside a poesia.

O pôr-do-sol envolve surfistas das adversidades de uma cidade magoada pela modernidade e seus vícios. Uma gente que não se dá conta de sua própria beleza. Só se dá conta que o dia escurece. Que é hora de ir embora.

Até o sol merece repouso depois de descansar tantas almas. Reconheço: não há adversário para tanta força. Assim, entrego-me inteiramente apaixonado por esta cidade.

Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 01/11/2008
Alterado em 26/08/2010
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