Se conselho fosse bom...
Anamnese é tudo. A palavra significa em grego: ana = trazer de novo; mnesis = memória. Em medicina é a condução de perguntas que fazemos para conhecermos o estado geral do paciente ou para que possamos entender sobre alguma doença ou alteração física que o mesmo esteja apresentando. Analisamos em conjunto fatos, hábitos, comportamentos, sinais e sintomas, história clínica etc.
Uma amiga foi por mim consultada e apresentava manchas descamativas nas mãos, principalmente nos dedos. A coisa tinha evoluído com as mesmas lesões no rosto. Quando os olhos e a boca incharam, ela me procurou, depois de ter passado por alguns médicos, sem sucesso no tratamento.
Na anamese, nada foi esclarecedor. As manchas pareciam de fundo alérgico. Como ela é professora há muitos anos, concluí que o provável agente causador tenha sido o giz, o qual ela usava constantemente nas salas de aula.
Ela ficou indignada, pois jamais teve alergia a giz! Eu disse que qualquer um pode ficar paulatinamente sensibilizado com alguma substância alergênica (e qualquer coisa pode causar alergia, dependendo de cada pessoa), até abrir-se um quadro anafilático.
Isso é muito comum com medicamentos “inocentes” como a dipirona, usada para febre. Quanto mais a pessoa usa um medicamento, mais ela pode criar anticorpos contra ele e apresentar uma reação.
Ela me perguntou como, então, eu explicava os olhos e lábios edemaciados. Disse que nós passamos, até sem percebermos, as mãos no rosto várias vezes ao dia. Os olhos e lábios, assim como o couro cabeludo, são áreas mais vascularizadas, e por isso incham mais.
As mulheres são mais expostas a agentes que causam alergias desse tipo, uma vez que usam com maior frequência perfumes, cosméticos, xampus, cremes e tinturas para cabelos, esmaltes nas unhas, além de detergentes, sabões e desinfetantes domésticos.
Recomendei que ela se tratasse com um especialista e procurasse evitar contato com giz. Ela riu debochadamente: seria impossível, mesmo sabendo que o contato com o causador da alergia impediria um tratamento bem-sucedido. Sendo assim, o melhor seria mudar de profissão ou função, pois mesmo usando luvas, estaria convivendo com o pó que é espalhado no ar.
Aí, ela também me aconselhou: “Desista de ginecologia, então!”.
Perguntei por quê. Ela me lembrou: “Porque um dia você falou que era alérgica a mulher...”.
Tendo a ver ou não, eu acho que nunca vou ficar boa da minha rinite!
Leila Marinho Lage
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