Clube da Menô

A minha vida só é possível incrementada!

Textos


BOLINHO ANA MARIA

Supermercado já não é lá um excelente programa, ainda mais com homem. Certos homens são melhores que mulheres na hora de fazer compras: econômicos, objetivos, práticos, pagam as contas e levam o que é absolutamente necessário. Outros são totais alienados: compram coisas absurdas e trazem pra casa tudo o que é prescindível no dia a dia. Ou quando pedimos algo, trazem exatamente o oposto do que queremos, mesmo que a gente tenha feito mapa, desenhos, anotações e roteiros dos stands e dos produtos...

Eu não preciso de Josualdo para fazer compras, mas pensando que seria uma boa curtir nossa relação TAMBÉM no supermercado, levei meu namorado junto comigo para as compras do mês. Quero dizer: não faço compras de mês. Isso é coisa para assalariado e que ganha bem. No mercado a gente compra o que pode, depois de pagar o resto das contas. Quem faz o inverso está de barriga cheia e de saldo vazio. 

Tenho um mercado quase ao lado de minha casa, o "Fendas". Não é lá coisa bacana, mas é do povão e conhecido. Produtos? Deixam a desejar, mas ninguém morre de fome. O problema é que não conservam as coisas direito e eu sempre abro caixas de coisas podres, ainda na "validade".

De manhã cedinho é a melhor hora para as compras: tudo "quase" fresquinho, desde que saibamos bem sobre o que presta ou não. Com o tempo a gente aprende. As donas de casa saem com mordidas de mosquitos nas pernas. Já me disseram que não é o mosquito do dengue. Então, que todas sejam mordidas e não reclamem!

O melhor de tudo é o ar refrigerado. Poucos têm em suas casas um com tanta potência. Mesmo que o ar esteja com cheiro de geladeira velha, a gente se refresca enquanto faz nossos afazeres domésticos. Isto seria insignificante se não fosse uma temperatura indecente no Rio de Janeiro no mês de março de 2009, o que faz não termos a menor disposição para nada!

Um dia eu quis comprar um rádio-relógio por lá... Achei um negócio da China encontrar um por R$ 29,90. Ao chegar à minha casa descobri que o mesmo não funcionava. Fui lá trocar e todos os produtos da prateleira estavam com o mesmo defeito - todos os 30... Tive que trocar por acelgas e brócolis. Uma semana depois os mesmos estavam lá, para o mesmo fim, como também, as acelgas e brócolis para as devidas trocas.

Foi aí que eu convidei Jô, meu namorado, para me acompanhar em novas compras. Ele até que gostou, apesar de odiar essa parte da rotina. Ele seria importante para mim na hora de ensacar as coisas - talvez...

Enquanto eu andava atrás do que precisava, Josualdo estancou à frente do balcão dos perfumes e xampus. O pessoal do mercado já não coloca mais doces e chocolates nas prateleiras da frente, pois descobriram que brasileiro se encanta mais com cheiros bons. A média de tempo que se perde na parte de cosméticos é o dobro da perdida numa fila de carne, onde reclamamos que nem loucos pela demora.

Mulher inteligente sabe o xampu melhor, a "gillette" mais potente e o desodorante que não dá pereba, mas homem não! Eles abrem todos os frascos e cheiram, cheiram...

Enquanto eu apalpava jilós e quiabos, para descobrir os que não estavam passados, Jô se encantava com o sabonete para machos, lançado pela Ginólia... Eu gritava com ele, sem o enxergar, para que me acompanhasse, até que eu tive que ligar para seu celular, intimando-o: "Ou você vem agora pra ala dos embutidos ou eu não dou pra você hoje!".

Até que foi legal na hora em que comparávamos os preços dos produtos de outros mercados, nos encartes de jornais. Poderíamos protestar pelo preço em dobro que cobravam. Foi o momento mais romântico:

"Meu bem, você não acha que a linguiça aqui está um absurdo? Olha o preço que vendem a mesma marca no mercado "Rio de Janeiro"... E no "Super" está menos que a metade!".

Eu tinha um verdadeiro companheiro ao meu lado, salvaguardando nosso orçamento... Até que ele descobriu a seção das caixinhas de comidas: ele queria porque queria levar empadão de carne e espinafre, cheio de conservante e com cheiro de peixe, mesmo eu dizendo que eu tinha feito um fresquinho. Ele disse que os de caixinha eram mais gostosos... Claro! Nada que um Floratil não resolva, né?

De repente Simply Red começou a cantar no alto-falante. Não resisti: abracei Jô e comecei a dançar. Ele me chamou de maluca. Eu só tava comemorando a oportunidade de escolher o que comer, e de poder comer aquilo que eu quisesse! Quantos no mundo podem fazer isso? Quantos têm a variedade de coisas como nós? Heim?!

Logo depois eu o vi com um carrinho cheio de biscoitos, doces e guloseimas. Um convite para um cateterismo daqui a dois anos. Aí eu dei uma de louca, pois ele briga com o que eu gasto, dizendo que eu não sou controlada.

Um dia desses eu ouvi de uma dona de casa, que estava na fila junto a mim, que a classe média gasta em média dez mil paus ao ano com comida. Eu acho que dá bem mais, dependendo do número de pessoas ou dos hábitos - isso na classe média ou média-alta. Na classe baixa a realidade é bem outra.

Eu quis sacanear Jô. Disse que iria roubar uma "Ana Maria", aquele bolinho que dá azia, que eu iestava a fim de comê-lo e não pagar por isto. Ele ficou doido, pois é politicamente correto. Eu disse que estava deixando no mercado impostos que dariam para comprar muitas Ana Marias. Ele olhava para as câmeras no teto, enquanto eu realizava meu desejo.

E não paguei! Ele ficava com o envelope na mão, vazio, com medo de alguém ter visto. Eu dizia que não fazia diferença alguma, diante de trezentos paus que eu ia dar ao mercado. Ele insistia que aquilo não estava certo. Eu dizia que se ele passasse com o saco vazio, ia ser motivo de abstinência por um mês! 

Na fila dos caixas foi outro problema. Ele ficou numa fila e eu noutra, para vermos quem chegava primeiro. Ele não queria que eu ficasse em outra, porque aquilo seria injustiça com quem estivesse atrás. Ele me perguntou sobre o que eu diria, caso alguém reclamasse. Eu respondi: "Perdeu, meu irmão!".

Ele jurou que jamais entrará em um mercado comigo outra vez. Já é a terceira vez que ele diz isto. Mas posso dizer uma coisa: meu amor Josualdo é o melhor, o mais gostoso, o mais adorado, o mais respeitado, o mais idolatrado e o mais legal de toda a minha vida - mesmo que não saiba a diferença entre banana nanica e banana prata... 

Beijos da Menô!

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Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 08/03/2009
Alterado em 13/06/2012



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