Clube da Menô

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Textos

Porra louca. Eu?!
Com licença poética...


Vejam o PPS "Com licença poética", no link:
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/1463182

O que é porra louca?

1- “Alguém que está à margem da sociedade”
 
Isso eu vejo nos pacientes psicopatas e sociopatas e não em porras loucas.
 
2- “Aquele que não tá nem aí com a hora do Brasil”
 
Eu estou aí com as horas de todos em qualquer lugar do mundo...
 
3- “Aquele que rasga dinheiro”
 
 Não tenho isso pra gastar ao léu, muito menos pra rasgar.
 
4- “Aquele que se contradiz”
 
 Eu sou sempre a mesma.
 
5- “Aquele que fala qualquer coisa e não pensa nas conseqüências”
 
Aí vai a diferença do porra louca e eu: sempre penso no que falo e espero tudo que há de vir. E quando pensam que vão, eu já to voltando.
 
Porras loucas são considerados assim porque o mundo não está normal. Eu sou normal! Ainda não lembrei do autor que disse: "Loucos não é quem perdeu a razão. Louco é tudo, menos quem perdeu a razão" - ou algo parecido...
 
Não sou porra louca e muito menos considero meus atos como loucos. Acho até um elogio quando dizem que sou a doctor "doidinda", porralouquice pura; adoro que achem isso, mas somente vindo de quem soube ver além disso e teve a sua vida ligada à minha, quem teve uma história comigo.
 
Não sei porquê, mas vivem dizendo que eu mostro uma bondade além de meu escudo de frieza. Eu não sou fria, muito menos tenho escudo. Apenas adapto-me e falo a MINHA LÍNGUA, sem frescuras. Não brinco com o que não deve e não me fecho quando devo abrir os braços. Sou um pouco de cada coisa, justa e sinceramente.
 
Acho que loucos são os que escondem a simplicidade que deveria existir em cada um, a qual eu tento com meu suor e minha vida manter. Porra louca?... Se isso é ser porra louca, eu quero ser assim até morrer!
 
Vejam o PPS COM LICENÇA POÉTICA e talvez entenderão:

O termo "Intertexto" é usado para designar um conjunto de textos ligados com o mesmo sentido, ou seja: a reescritura de um texto original.

Adélia Prado o fez bem na poesia “Com licença poética”, onde ela parodiou o “Poema das Sete Faces”, de Carlos Drummond de Andrade.

Na poesia de Drummond, a visão do “vasto mundo” é de fatalismo e desesperança. Em 1978 veio Adélia para mostrar que mulher tem o olhar do otimismo e perseverança, pedindo “licença” para utilizar literariamente as palavras do poeta.

Drummond se sente “gauche na vida” (do francês gôshi: esquerdo, torto, desajeitado, à margem dos acontecimentos). Adélia carrega bandeiras; o anjo de Drummond é torto, enquanto o de Adélia é esbelto. Quando a escritora se diz desdobrável, ela debocha dos pessimistas e se põe como mulher a enfrentar as dificuldades para se adaptar no mundo moderno. Drummond tem de herança a tristeza do pai, e ela o contesta com seu pedigree forte.

Em síntese, ela diz: “Sai fora!”.

Escolhi para fundo musical neste pps a composição de Rita Lee, que homenageia Patrícia Galvão, a Pagú - jornalista, escritora e revolucionária comunista (1910/1962), um ícone da vanguarda feminina.

Adélia Prado nasceu em 1935 e se formou em pedagogia e filosofia. Depois de uma vida quase comum, pois escritores e poetas não vivem vidas comuns, em 1973 ela enviou seus trabalhos a Affonso Romano Sant’Anna, que o encaminhou a Drummond, que, por sua vez, se hipnotizou pela qualidade de sua obra e passou a divulgá-la. Ela escreveu vários livros e conquistou vários prêmios.

Eu também fiz um intertexto com “Poema das sete faces” e “Quarto em desordem”, do mesmo autor, que está no pps “Poema das quatorze faces”, mas nem de perto parece com o que Adélia quis dizer.

Outros também se encantaram e brincaram com o que Drummond lamenta, num festival de intertextualidade, como Orides Fontela que escreveu em CDA (imitado): “Ó, vida! Se eu me chamasse Aparecida dava na mesma...”.

Ou Dora Leal, em Vestida de água: “Quando eu nasci um anjo distraído, desses que vivem nas nuvens desejou: “Vai, menina! Navegar em águas tranqüilas”. Que ledo engano! As águas caminharam lentamente e eu nem aprendi a nadar”.

E veio Chico Buarque na música “Até o fim”: “Quando nasci veio um anjo safado, o chato do querubim, e decretou que eu estava predestinado a ser errado assim. Já de saída a minha estrada entortou, mas, vou até o fim’.

Poema das Sete Faces, de Drummond

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos , raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo,
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Com licença poética, de Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.




Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 08/03/2009
Alterado em 07/11/2009



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