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Síndrome do Jaleco Branco e a PoesiaSeu Dionísio não sabia mais a quem recorrer. Seus males não tinham uma causa aparente e nenhum médico dava jeito. Até que conheceu Dr. Guilhermino, um profissional com ar respeitável e que parecia bastante competente - pelo menos ele ouvia atento às queixas de seu novo paciente...
- "Doutor, é um tal de rondel no meu estômago que não entra nem uma batatinha cozida. Já usei tudo quanto foi remédio que me receitaram!".
O médico iniciou a anamnese:
- "O senhor já fez uso do quê?".
-"Bem, não dá pra colocar em ordem cronológica, mas o que já tomei de acróstico não tá no gibi! Indriso, então, nem se fala...".
Dr Guilhermino ficou intrigado com tal relato e continuou:
- "Já aconteceu de o senhor ter haikai alguma vez?".
- "Ah, doc... Muitas vezes! Sinto haikais o dia todo e dizem que é pressão baixa por causa do calor...".
"Eu não acredito, senhor", disse é médico, já sacando suas armas - o estetoscópio e a lanterna. O paciente começou a ficar lívido - era a "Síndrome do Jaleco Branco".
Isso acontece com certas pessoas toda vez que se veem diante de um profissional de saúde, pois ficam nervosos. Começam a ter tankas aceleradas no coração, devido à descarga de adrenalina no sangue. A pressão arterial pode aumentar; a respiração fica rápida, para dar aporte de oxigênio ao cérebro - o mesmo que acontece na síndrome do pânico.
Na verdade, a adrenalina nos prepara para o ataque ou a fuga, como nos primórdios da existência dos animais. Nossos cabelos se eriçam, para assustarem o inimigo; acontece uma palidez na pele, pois o sangue está sendo sequestrado para as áreas que precisam mais de combustível naquele momento (coração, pulmão, cérebro e músculos). O corpo fica tenso, os olhos se arregalam e as pupilas se dilatam para proporcionarem melhor visão da imagem do agressor. O suor aparece devido à queima de energia. É um sistema de defesa instantâneo, mas nem sempre perfeito, que acontece com qualquer pessoa, em várias situações, a todo momento.
- "Peraí, doutor... Eu preciso respirar primeiro, antes de o senhor começar a me examinar. Esta coisa gelada me lembra morte".
O médico não entendeu sua queixa:
- "Que coisa gelada?".
Imediatamente Dionísio afastou o sensor do estetoscópio que o médico insistia em encostar em seu tórax a fim de auscultar seu pulmão e coração:
- "É esta renga gelada que o senhor tá cutucando aí nas minhas costas! To vendo tudo embaçado, doutor. Acho que to tendo um infarto!".
O médico olhou para ele e falou mansamente: "Não, amigo. O senhor está apresentando taquicardia e observo que seu coração bate descompassado. Estou ouvindo várias duplix e quadripilx".
Aquela resposta não podia soar pior aos ouvidos de Dionísio. Ele entrou na sala de atendimento com um sintoma no estômago e estava sendo acometido de quadriplix repetitivas! Aquilo podia ser o seu final!
O médico tentou acalmá-lo:
- "Entenda bem: o senhor até pode ter algo no estômago, mas se fosse uma simples gastrite, por exemplo, seria quase impossível que tantos indrisos e acrósticos não resolvessem. E agora, examinando o seu coração, posso lhe dizer que tem arritmia cardíaca, mas, principalmente, o que lhe acomete negativamente é o sistema nervoso. O senhor é muito nervoso, sabia?! Deve tomar umas trovas, pelo menos na hora de dormir".
Ele olhou meio desconfiado e perguntou:
- "Isto dá muito soneto?".
O doutor sorriu, quase que paternalmente, e tentou tranquilizá-lo:
"Não... Apenas vai dar uma balada em seu sono. O senhor precisa, antes de tudo, diminuir a ansiedade, relaxar bastante".
Ainda meio receoso, ele pediu socorro:
"Isso não vai prejudicar a função do meu estribilho, não é? Ou vai?...".
- "Não, meu caro" - disse o sucessor de Esculápio - "Seu estribilho pode até estar encolhidinho a esta hora, mas certamente funcionará mais adequadamente depois de tomar duas trovas ao deitar".
Ele observava o médico, todo limpinho, todo arrumadinho, com gumex no cabelo e ar de poder e segurança. Concluiu:
- "Então o que sinto no estômago é do coração...".
- "Talvez... A meu ver, sim. A origem disso veio do coração e da sua cabeça, possivelmente por um cordel de emoções...".
O médico sentou à mesa e começou a escrever uma receita. Repentinamente retirou os óculos e, mesmo que não conseguisse mais enxergar, olhou bem nos olhos dele e aconselhou:
- "Faça rimas simples em sua vida, mas rime, mesmo sem métrica, mesmo que não tenha concordância com o mundo à sua volta. Não tenha medo de mim mais do que da vida. Estou aqui pra lhe ajudar. Seu destino já é traçado. Então, não morra antes da hora".
Mesmo sem entender bem as palavras de seu protetor, seu Dionisio saiu da consulta com um semblante mais calmo. Dona Alexandrina, a secretária, quando o viu se retirar, elogiou: "Nossa! O senhor entrou um e saiu outro! Chegou muito apólogo e agora tem uma cara bem mais rondó!".
Isso, sim, o deixou todo PROSA...
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 12/03/2009
Alterado em 21/03/2015
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