Olhar de seca-pimenteira
Eu tinha um vaso com uma pimenteira. Ele caiu lá embaixo, no térreo, depois que uma ventania o arrastou. Eu achei que depois de resgatar a planta ela não iria vingar.
Como ela estava toda sequinha, antes de cair, talvez por causa de mau-olhado, eu não dava nada por ela. Como eu jamais deixaria ninguém abandonado, nem mesmo uma planta, eu a peguei do chão, toda espatifada, e a replantei. Até adubo líquido eu comprei...
Ela secou todinha e eu podei seus galhos. Em dias de sol, eu verificava se ela estava comendo luz. Aproveitei as pimentas secas, que a meu ver são ornamentais apenas, e fiz conserva com azeite, sal, alho e vinagre. Tudo sem gosto... Uma pimenta sem gosto, mas linda no vaso...
Colhi, então, as sementes secas que sobraram e as plantei em outro vaso. Fiz uns três vasinhos de pimenta e achei por bem os colocar em outro local.
Todos os dias eu regava as pimentinhas, mas não estava muito crédula de algo, até que hoje eu abri a janela e vi mudas, muitas mudas, e vi brotos de futuras pimentinhas vermelhas e outras amarelas. Todas lindas, fortes e viçosas.
A gente acaba não dando crédito a certas coisas, mas, mesmo assim, sem saber bem a razão, continuamos a regar o improvável, até que um dia acontece a surpresa.
Não existe absolutamente nada em nossa vida que não brote, se foi regado e cuidado com paciência. Quando menos se espera, abrimos as janelas de nossas vidas e vemos o que cultivamos.
As pimentas podem até morrer um dia, mas a construção, a feitura, o trabalho diário e a esperança dos frutos existiram. E em minha vida também frutos virão, mesmo que tardiamente.
Foto de Leila Marinho Lage
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 09/04/2009
Alterado em 09/04/2009