Perda
Perdi um comprovante para o imposto de renda
Um papel que resumiria horas de trabalho
e agora me rende dor de cabeça...
Sento e desisto.
Não tenho a mesma memória como parceira,
minha sentinela.
Resolvi fechar os olhos, ficar pelada.
Sem lenço, documento ou qualquer semelhança
com uma criança.
Sou mais um guri.
A não ser pelo olhar
atrás das olheiras.
Olhar de esperança,
mesmo sem nada esperar;
este olhar frenético
existirá até minha morte,
pois é genético.
Não posso pintá-lo em meu rosto,
apenas pinto ao redor.
Retoco marcas de desgosto.
A maquiagem não fica melhor...
Perdi tanto.
Perdi um teto, dois tetos
e ainda perderei outros.
Mas, como nossa final e eterna morada é no chão,
não vai ser sacrifício nenhum
perder o que fica acima de mim em vão.
Perdi a foto,
perdi a festa,
perdi o show,
porque no dia eu estava triste.
Perdi o almoço,
e, portanto, perdi o encontro.
Perdi tempo...
...com pessoas,
perdi pessoas,
mas não me perdi na minha intenção.
Perdi dinheiro,
ou melhor, não o ganhei.
Perdi o papel onde desenhei
viagens que não programei
- pra fora,
porque pra dentro,
sempre me visitei.
Perdi o oportuno.
Perdi meu mundo,
perdi a graça...
O tesão por certas coisas?
Perdi com o imposto...
Perco nomes, endereços,
perco-me em adereços.
Perdi o fio da meada,
perdi a piada.
Vivo perdida,
perdendo a entrada.
A saída?
Dá pra saber?
Nesta ainda não vi nada.
De tanta perda em minha vida,
não consigo entender
como me chamam de rica.
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 12/04/2009
Alterado em 06/10/2009