Clube da Menô

A minha vida só é possível incrementada!

Textos


Bullas

Oi, amigos. Aqui é Dona Menô.

Passeei pacas por aí nos últimos tempos. E estive em uma excursão. Fui em um ônibus de turismo - só pra sentir como será o encontro dos leitores de meu site, pois eu farei um mega encontro. Leiam “Convite a um passeio”.

Pois é... Eu queria ver as dificuldades reais de unir pessoas da terceira idade com dificuldades de deambulação ou outras deficiências. Ainda estou nesse laboratório, mas passarei minhas primeiras impressões, uma vez que eu me deparei com um acontecimento intestinal que me acometeu horas antes de pegar o tal ônibus...

Eu não sei o que foi que eu comi e nem sei se é verme, mas eu fiquei com o maior piriri! Josualdo, meu companheiro, estava todo enfeitadinho, esperando o ônibus que ia nos pegar para nos reunirmos a um grupo que visitaria uma tradicional fazenda de café. Na verdade, uma ex-fazenda, agora um hotel. Eles também mostram como foi a vida na época da escravidão e como foi que o Vale do Paraíba, no estado do Rio de Janeiro, desenvolveu o cultivo e o comércio do café no tempo do império (o Vale do Café). Havia até uma dramatização de um barão e uma baronesa linda e submissa - todos a caráter.

O passeio foi lindo, mas foi mais lindo ainda o meu desarranjo no ônibus... Vocês já usaram banheiro de ônibus de turismo? Em movimento?... Então imaginem esse tormento numa situação diarreica...

Perguntei a Jô como era que eu usava o banheiro de ônibus. Ele disse: “Da mesma forma que usa nosso banheiro!”. Ora, meu banheiro não é minúsculo e muito menos sacode! Eu levei o maior susto ao entrar naquele cubículo e perceber que os outros lá fora iriam ouvir cada coisa que eu fizesse lá dentro. Começou aí minha saga...

Primeiro eu fechei a porta. Ao virar a maçaneta, luzes acendem lá fora, mostrando que o banheiro ficou ocupado. Eu me virei e vi uma janelinha de vidro: dependendo do local por onde passaríamos, era bem capaz de verem minha bunda... Não confio nessa coisa de vidro fume. Se eu olhava pra fora e via tudo, achei que lá fora veriam o mesmo no interior do ônibus. Pelo sim, pelo não, encolheu a vontade...

E o ônibus dava de correr! Eu me balançava lá dentro, segurando-me às barras de ferro das paredes, tentando ficar de pé por cima do vaso sanitário, porque eu jamais sentaria em privada pública! Pior era mirar o alvo numa curva!!!

Assim que eu consegui, depois de uma meia hora claustrofóbica de tentativas, quando todos aqueles coroas sabiam o que eu fazia lá dentro, procurei a descarga... Vi um botãozinho perto da pia e apertei. Era o botão da água do lavabo, obviamente...

Decidi me limpar. E quem disse que eu conseguia?! Ou eu me segurava nas barras de segurança, ou usava o papel! Preferi me limpar, e aí é que morou o perigo... Numa guinada radical do carro, eu caí contra a porta e esta se abriu. Lá estava eu, bem à frente de dezenas de bancos reclinados. Todos olharam pra trás e viram a cena: eu estava com as calças no joelho, com tudo de fora e curvada pra me segurar em algo.

- “Aí, turma... Foi maus... Paz e amor!”. E voltei pro cubículo pra continuar minha obra...

Onde estava a merda da descarga??? Existia uma rodela no fundo daquela privada e esta precisava ser limpa! Eu saí muito puta da vida daquele buraco e pedi a Josualdo pra me arrumar uns dez copinhos de água mineral. Ele me olhou incrédulo e perguntou: “Nossa! Quanta sede!”. Eu pensei: “Nossa! Que idiota!!!”.

Ele, sem querer saber direito do que se tratava, pois estava mais interessado em ver Alcione cantando em um DVD, bateu à porta do tal banheiro, para onde eu tinha retornado, com outro golpe visceral de arrependimentos gastronômicos da véspera, e me entregou a encomenda.

Tudo certo! Depois de uma hora, eu estava longe do banheiro! Usei todas as toalhas de papel para tomar banho de gato e descobri, depois de ter sofrido todas, que existia um pedal no chão. Pra sacanear o próximo, escondi o mesmo por baixo de restos de papel...

Saí altiva, de nariz em pé, mesmo que o resto estivesse caidinho, caidinho... Os gases continuavam e eu me controlava em tenesmos, até que um cara resolveu entrar no banheiro. Comecei a ficar feliz quando percebi que ele demorava mais do que demorei. Depois comecei a ficar preocupada com a demora. Ele era velho demais e podia ter morrido no único lugar que estava sendo muito útil pra mim.

O resto da turma jogava bingo e não estava nem aí com o cara - mas eu estava... Daqui a pouco luzes acima do reservatório de nossas necessidades começaram a piscar entre verde e vermelho. Entre ocupado e desocupado, ele começou a bater na porta: “Socorro! To preso!!!”. Eu me senti menos ridícula.

Apareceu um, depois apareceram dois e três. Daqui a pouco o grupo todo estava à frente da porta do banheiro dizendo para a vítima virar a maçaneta e abri-la. Caraca! Se ele pudesse sair, não estaria naquela situação, né?

No meu íntimo eu me sentia bem, gente... Vi que eu não era a única a pagar mico naquele passeio... Mas comecei a ficar com pena do otário quando ele começou a dizer que estava ficando sem ar. Emocional puro, mas quem sabe que cheiro havia lá dentro?...

Depois que todas as coroas rezaram pra alma dele e os coroas tentaram a todo custo fazer psicologia com o enclausurado, fui ao motorista e disse: “Bicho, alguém tá se borrando de medo no banheiro!”.

O ônibus parou e dois metros de motorista deram uma porrada bem forte na porta. Saiu um velhinho mais branco que os cabelos dele. Quando ele passou por mim, perguntei: “O que achou das barras de apoio? Você conseguiu assoviar e chupar cana?”.

Ele disse: “Conseguir, eu consegui, mas depois que me vi preso, me caguei todo de novo...”.

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Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 26/05/2009
Alterado em 26/09/2009



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