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Textos

Prevenção do câncer ginecológico
Fazer ou não fazer? Eis a questão.
 
Dando continuidade às minhas impressões sobre as normas do sistema de saúde pública, no que diz respeito às rotinas de atendimento e exames para prevenção do câncer ginecológico, complemento com alguns esclarecimentos às dúvidas de uma senhora que faz parte do Clube da Dona Menô.
 
Publico em vermelho os comentários e perguntas da leitora, e logo abaixo, minhas respostas.
 
“Lendo suas crônicas, lembrei-me que há dois anos, quando de meus exames ginecológicos anuais, o médico disse que se eu tivesse os últimos três exames de 'Papanicolau' consecutivos sem problema, e já estava com mais de 65 anos, não haveria necessidade de fazer novamente.
 
Achei ótimo, porque é um exame tremendamente desagrádavel de fazer, mas no ano seguinte já fui a outro gineco (convênio é assim mesmo) que pediu o exame, sem mencionar o fato. Fiz o exame e também me calei.
 
Agora, em 2009, já num convênio novo, fui novamente para meus exames, e com outro médico. Aproveitei o fato e questionei sobre o exame, ao que ela me respondeu que há controvérsias sobre o assunto e que, na dúvida, é melhor continuar fazendo.
 
A pergunta é a seguinte: Depois dos 65 anos a mulher não terá mais a chance de ter câncer no útero?”.

Vou me restringir apenas ao pensamento médico, dando minha opinião, e fugirei de dar palpite sobre artimanhas e interesses políticos, mas tenho que fazer referência ao que levou a este texto aqui: as normas que TENTAM impor para o rastreio do câncer ginecológico, limitando a nível público que as mulheres façam seus exames no período até hoje determinado. Para isso eles se baseiam em estatísticas totalmente furadas.

 
Todo protocolo de atendimento médico a uma categoria de pessoas deve se apoiar em estatística, mas não só isso: deve-se usar bom senso. Precisamos, então, saber a finalidade desta rotina de investigação: serve para apenas diagnosticar as doenças, ou é para se detectar precocemente a mesma, com a finalidade de cura ou melhor prognóstico de sobrevida?
 
Se uma faixa etária é frequentemente acometida por uma patologia, e se esta provavelmente começou anos antes de sua descoberta, e se a finalidade é prevenção, então o rastreamento na população de risco deve começar anos antes.
 
No caso do câncer de mama, quando é detectado, mesmo em fase não invasiva, provavelmente estas células malignas já estavam no tecido uns dois anos antes. Até mesmo numa mamografia sem imagens suspeitas pode haver tecido maligno.
 
Cada caso é um caso e cada investigação é específica para cada paciente. A única coisa que não se admite é deixar de se indicar mamografia anual a partir dos 40 anos de idade. Cada vez mais a incidência de câncer está abrangendo a mulher a partir desta idade, e com a proximidade da menopausa, quando nossos hormônios estão descontrolados, o perigo é maior.
 
O avançar da idade já é risco, pois se sabe que quanto mais velhos ficamos, mais possibilidade de termos um câncer em algum órgão. Os fatores de risco para o câncer de mama estão em todo o lugar: obesidade, reposição hormonal, alimentação inadequada, drogas como o fumo etc. Não se pode ignorar isso e dizerem que só é importante mamografia a partir dos 50 anos...
 
Quanto ao câncer de útero e colo de útero, tema de sua pergunta, vou tentar explicar:
 
A colpocitologia (o preventivo ou exame de Papanicolau) é o exame das células colhidas do colo uterino (parte exposta do útero, que dá para a vagina). Também são colhidas células das paredes vaginais. A intenção não é só pesquisar câncer, mas infecções e até alterações hormonais.

As mulheres jovens são o grupo mais propenso para as infecções, principalmente sexualmente transmitidas, mas as estatísticas mudam a cada ano e observamos adolescentes muito jovens iniciando sua vida sexual, como também vemos mulheres cada vez mais idosas que ainda mantêm relações sexuais.

 
O que significa isso? Significa que o fato de ser mulher já é fator de risco para DST. Lembrando que não é só HPV que é transmitido no sexo (o principal agente facilitador para o câncer do colo uterino), mas muitas outras infecções são adquiridas.
 
O corpo uterino é a parte que se situa dentro da cavidade abdominal. O câncer do corpo do útero incide mais nas mais idosas. Neste caso, o preventivo pode até dar algum indício da doença, pois algumas células podem escoar da cavidade uterina e serem detectadas na coleta vaginal, mas o exame mais específicos para este rastreio é a ultra-sonografia transvaginal e/ou pélvica.
 
O exame mais rotineiro é a ultra-sonografia por via transvaginal. Nos casos de mulheres virgens ou com a vagina atrofiada pela menopausa, e se essas mulheres estão assintomáticas, a ultra-sonografia pélvica é a opção.
 
O histeroscópio é um aparelho com uma fina fibra ótica, que é utilizado para se visualizar a cavidade uterina (endométrio), quando podemos até fazer biópsias ou cirurgias. Lança-se mão da histeroscopia quando já se observou alguma imagem ultra-sonográfica suspeita, que pode ser de origem benigna ou não.
 
Mesmo a "ultra" pode ser normal enquanto mulher já pode estar com câncer de endométrio. Sendo assim, a anamnese (a conversa, o questionário sobre sinais e sintomas apresentados) é muito importante. Dentre os sinais mais suspeitos está o sangramento por via vaginal fora do período menstrual ou pós-menopausa.
 
Ainda existe o câncer de ovário, menos frequente, muitas vezes de crescimento silencioso, mais comum de surgir a partir dos 50 anos em diante. No toque vaginal este pode passar totalmente despercebido, se tiver proporções pequenas, mas, mesmo assim, com alto poder de invasão. É o câncer ginecológico mais difícil de ser rastreado e, por isso, todo cuidado é pouco. A ultra-sonografia é o exame de rotina para este estudo e deve ser feita anualmente.
 
A tomografia e ressonância magnética da pelve também são exames solicitados para quem apresenta alguma anormalidade na ultra-sonografia do corpo uterino, ovários ou na cavidade pélvica.
 
Esquece-se que a bexiga feminina também pode apresentar câncer. Por meio da ultra-sonografia ginecológica realizada de rotina podemos encontrá-lo.
 
Quero lembrar que ninguém sabe quando um câncer vai aparecer e ninguém neste mundo pode garantir que se um exame hoje está normal, não teremos nada nos próximos anos. Estes exames preventivos não são cartas nas mãos de uma vidente, portanto a conduta é e sempre será:
 
Exame Papanicolau anualmente ou, de preferência, semestralmente, para qualquer mulher com atividade sexual, e pelo resto da vida. As que são virgens devem fazer preventivo a partir dos 20 anos.
 
As mulheres na menopausa, mesmo sem atividade sexual ou com vagina atrófica por falta de hormônios, devem seguir a mesma regra.
 
É utilizado um suab ou cotonete para a coleta do material vaginal em virgens e mulheres muito idosas. Em alguns destes casos podemos utilizar um espéculo de virgem, mais fino que os tradicionais. Não se tem uma visualização perfeita, porém mais um recurso disponível.
 
Acrescento a estas explicações que existe uma enorme diferença entre se acompanhar uma mulher em alguma instituição de saúde pública e aquela que tem condição de pagar por uma consulta particular ou tem um plano de saúde. Aqui eu quis deixar somente o que é pra ser feito, aquilo que a medicina e os verdadeiros homens da ciência tentam por décadas aplicar na prática. O resto você pode concluir sozinha.

Leiam também os textos:

Câncer do colo do útero e mama (parte 1) - minhas considerações 
(1 de novembro de 2009)
http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1899858

Câncer do colo do útero e mama (parte 2) - prevenção
(20 novembro de 2009)
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/1935137
 
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 24/11/2009
Alterado em 25/11/2009



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