Clube da Menô

A minha vida só é possível incrementada!

Textos


Foto por Leila Marinho Lage

O meu primeiro laptop
 
Gente, eu ia escrever um conto da Dona Menô. Toda vez que eu tenho que lavar a roupa suja, coloco minha heterônima à frente, mas achei que a coisa tinha que ser bem real, já que aconteceu comigo exatamente como aqui descrito. Pode parecer piada, mas a vida no geral é uma...
 
Certas fases da nossa vida são um verdadeiro calvário de contratempos e aborrecimentos. O meu tá durando um tantinho demais da conta, apesar de que eu tenho tido também momentos muito bacanas na vida. Acho que pra que eu dê valor ao que consegui, Papai do Céu anda colocando alguns espinhos na minha roseira. Tudo bem! A gente guenta!!!
 
Vou pular o quesito dinheiro. Se não o tenho, não posso falar dele, então falarei sobre assuntos domésticos...
 
Suspeitam que meu apartamento (velho e alugado) está dando um vazamento no teto da vizinha. A vizinha é calmíssima e eu estou aqui me descabelando pra saber onde está o problema, pois o teto rebaixado dela tende a desabar.
 
Meu primo já rejuntou isso e aquilo e continua o vazamento. Combinei com a vizinha de tomar banho num banheirinho da área de serviço até amanhã. pra ver se a coisa vai parar de vazar. Eu não sou dondoca, pra mim tudo tá bom, mas tomar banho com um vaso sanitário entre as pernas é difícil...
 
Pra piorar a situação, a advogada da proprietária já adiantou que nada pagarão em consertos, "pois prédio velho com encanamentos de ferro é a coisa melhor que existe"!
 
Meu telefone sem fio do consultório pifou... Eu não posso ter a secretária me auxiliando se ela tem que sair para atender telefone. Isso já está me dando nos nervos...
 
O teclado e mouse wireless foram para o bebeléu. Troquei... Depois o monitor caríssimo pifou. Chamei Enoque, o salvador.
 
- "Bicho, isso é vírus? Tem um hacker no meu pc?".
 
- "Não sei, doutora... O jeito é formatar...".

- "Meu Deus! Aquele inferno de novo? Você já sentiu o drama? Já viu tudo que tenho pra armazenar e baixar de novo?!".
 
- "Sim, doutora... Para isso é que estou aqui...".
 
A calma dele me irrita! Tudo me irrita! Horas e horas de trabalho; por três noites Enoque esteve sentado à minha escrivaninha e eu deitada num colchonete, ao lado dele, e isso depois de um dia inteiro cuidando de gente doente!
 
- "Doutora, acorda...".

- "Que foi, que foi?!". Eu desperto assustada. Achei que eu estava num plantão e alguém ia parir.
 
- "A senhora tá roncando... Não é melhor ir pra cama?...".
 
- "Que isso?! Eu não ronco! Meu ex-namorado nunca disse isso pra mim!".
 
Enoque fingia que acreditava:

- "Não é bem um ronco... É que a senhora tá parecendo um gato, ou melhor, uma gatinha, entende?...". 

O meu técnico começou a me imitar. Quando eu olhei para ele, revirando os olhos, entortando a boca, mais parecido com um possuído, vi que dormindo devo assustar...
 
Estava na hora de gastar grana com monitor novo. O meu deu pau mesmo. Até eu decidir fazer a compra, Enoque colocou a tela da TV pra eu usar. Foi o fim da picada fazer PPS com imagens achatadas. Daí ele me emprestou um monitor quadrado, mas muito antigo, do tempo do ronca. Que coisa!!! Fiquei com enxaqueca.

O jeito era tomar coragem para ir a um shopping - coisa que eu odeio. Para esses momentos nada melhor do que acionar minha secretária. Ela me anima e não me deixa desistir. Aliás, foi ela quem me impôs acordar cedo e fazermos a compra juntas. Combinamos de nos encontrar no tal shopping, então de lá partiríamos para o trabalho, "coisa simples, rapidinha"...
 
Meu humor não era dos melhores. Começou que eu me desencontrei dela e fiquei ao celular tentando marcar um ponto de nos vermos. Ela, então, resolveu:

- "Fique aí! Não se mexa! Eu te acho!". E lá veio ela toda alegre, sorridente. Quando viu minha cara, logo percebeu como é que seria o dia...
 
Entramos na primeira loja. A atendente, enquanto espanava eletrodomésticos, perguntou: "Que é que vocês querem?...". Eu queria mandá-la para um lugar legal, mas Dejê me segurou pelo braço e fomos a outra loja.
 
Ainda bem que no segundo estabelecimento a coisa foi diferente. Atendimento quase VIP... A moça era muito simpática (vai ter futuro). Eu fui adiantando que estava mal humorada, mas ela me achou muito engraçada, espontânea... Eu não via graça nenhuma...
 
Aí aconteceu: o laptop olhou pra mim e eu olhei pro laptop. Eu nunca tive um e isto já me fez muita falta.
 
Para ser sincera, eu nem sabia se havia diferença entre laptop e notebook, mas, considerando que 7 anos atrás eu nem sabia ligar um computador e hoje tenho até um site, não devia ser difícil descobrir...
 
- "Vou levar este lapbook aqui...".
 
Dejê me olhou assustada. Fomos lá para escolher um monitor. Eu expliquei a ela que se eu estava numa fase negra, então ia sair rapidinho da coisa, e nada melhor que arrumar um novo brinquedo.

Ao entrar na fila para fazer a compra verificamos que o tal sistema (que sempre cai) caiu e tudo parou na loja. Aquilo foi a gota d´água. Eu começava a me atrasar para o consultório. Perguntei aos funcionários qual o prazo de espera e disseram que era imprevisível...
 
Avisaram-me que eu teria que ir a uma loja de celulares para comprar o modem, uma vez que ali só acionavam o sistema pré-pago, pelo menos era o que eu tinha entendido...
 
Como eu teria que esperar para fazer a compra do computador, fui à Vivo para sabermos o tempo que demoraria o atendimento. Eu informei para o moço que nos recebeu:
 
- “Eu quero comprar um lapbook, mas lá em cima só aceita pré-pago, sendo que e o meu celular é pós...”.
 
Ele me olhou assustado, com cara de que eu falei grego, e perguntou à minha secretária:

- “Que foi que ela falou, heim...?”.
 
Minha secretária repetiu o mesmo que eu tinha dito, daí o idiota entendeu, afirmando que nosso problema seria resolvido em 15 minutos no máximo. Assim sendo, decidimos almoçar, enquanto esperávamos voltar o sistema da loja de computadores.
 
Comi mais que devia. Era uma compensação pelo stress. E nada de voltar a Internet na tal loja! Até que alguém lembrou que poderiam usar o P.O.S. para que eu pudesse usar meu cartão de crédito. Bem, seria perfeito se soubessem montar a tal maquininha, que estava toda desconjuntada!
 
Eu já estava a ponto de desistir de tudo e voltar com mais mau humor do que cheguei, mas, graças ao bom Pai, consegui fazer a compra.
 
De lá eu fui para a Vivo. Fizeram-me esperar uma hora, pois uma garota (que estava ao telefone com o vendedor) simplesmente estava de má vontade e tirou aquele dia pra sacanear alguém - e esta pessoa era eu.
 
O sono me tomou por completo. Quando a gente vai ficando velha dá um sono danado após o almoço. Acabei dormindo sentada num banco duro, e de boca aberta, diante do vendedor da Vivo (talvez até roncando).
 
- "Leila, eu acho que agora o cara resolveu nosso problema. Acorda!", sussurrava minha secretária.
 
- "Dejê, é melhor você só me acordar quando realmente tudo estiver certo, porque enquanto durmo não tenho vontade de matar ninguém...".
 
Enfim eu estava voltando pra minha casa, deixando os produtos no chão e saindo em disparada para o trabalho, no qual cheguei atrasada, encontrando um bando de caras feias...
 
- "E aí, moçada? Tão zangadas? A vida é bela...". Elas me olhavam meio desconfiadas, porque eu sorria, porém trincava os dentes.
 
Eu ainda não pude nem ligar meu notetop. Não deu tempo, pois fiquei o fim de semana todo às voltas com canos e preocupações, até que o telefone tocou e alguém me disse:
 
- Oi, gatinha...".
 
A única coisa que me saiu foi:
 
- "Eu ronco, tá?...".
 
E ouvi do outro lado:
 
- "Tudo bem, gata. Sou surdo".
 
Pois é... O meu primeiro sutiã, nem lembro como era, mas jamais vou esquecer deste meu primeiro notelapbooktop.

Contato profissional com Enoque:
enoquebarros@gmail.com
 
Leila Marinho Lage
Rio, 28 de março de 2010
 
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 29/03/2010
Alterado em 01/04/2010
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