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Copa 2010 e a discriminação racial

Achei muita bonita a declaração contra o racismo que os capitães das seleções finalistas leram, e lerão amanhã. Na verdade o intuito é combater qualquer discriminação, tanto no futebol como na sociedade.

Desde 2001, quando em Buenos Aires foi assinada uma declaração contra o racismo no Congresso extraordinário da Fifa em Buenos Aires, a entidade organiza os Dias da Fifa contra a discriminação durante um de seus torneios.

Depois que o Brasil perdeu para a Holanda ouvi o comentador esportivo Galvão Bueno declarar: “É apenas um jogo, mas dói. É triste, machuca, incomoda”. É verdade... Incomoda saber que se entra numa luta com possibilidade de vitória, mas o adversário leva vantagem e todos os sonhos vão embora...

Quais serão esses sonhos? O que o povo ganha? Apenas a satisfação de ser o vencedor, representar um time de futebol vitorioso, mas vantagem MESMO só ganha quem está envolvido financeiramente com o esporte e as ramificações que ganham da mesma forma. Perderam os profissionais liberais, perderam os comerciantes, vários setores da sociedade foram, de alguma forma, afetados pela Copa, até mesmo os dependentes do nosso sistema de saúde pública - e até particular.

Em Copacabana hoje à tarde 15 mil pessoas estavam comemorando ao ar livre na praia e assistindo à partida. Depois disto, mesmo com a derrota, a “festa” continuou. Foi feriado e não foi. Se ganhássemos seria novamente “ponto facultativo” na próxima terça-feira. Agora todos voltam às suas vidas: os assalariados não sentirão a diferença, mas quem ganha por comissão, quem é profissional liberal e tantos outros sentirão no bolso o que a Copa trouxe. Pior será em 2014, quando seremos a sede dos jogos. Aí é que ninguém mesmo vai poder trabalhar...

Eu acredito que Dunga, o técnico, seja substituído para 2014 e muitos jogadores também. Eles tiveram a experiência do que foi perder a calma em uma situação de stress e viram que não basta apenas saber jogar ou estar fisicamente preparado. O cérebro faz parte do físico e este não foi treinado, muito menos o técnico tinha preparo para o cargo, apesar de ser veterano de outras guerras. Por falar em guerra, se os jogadores fossem para uma, estariam mortos, todos eles... Não se vence batalhas sem autocontrole.

Bem, daqui a quatro anos podemos levar a taça, até porque terão a influência psicológica de estarem em casa, apesar de eu ter achado que aqueles jogadores brasileiros não eram páreos para a laranja mecânica nem na China nem aqui... Poderemos trocar a seleção, fazer mudanças, melhorar a psique dos atletas, mas o que realmente dói, machuca e incomoda é sabermos que em 2014 a discriminação ainda existirá, uma vez que depende muito mais do que o esporte para ter um fim. No dia que isso acontecer valerá a pena folgar, comemorar e nos orgulhar.


Fotografia: Leila Marinho Lage
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 02/07/2010
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