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ABAIXO DESTA CRÔNICA PODERÃO LER SOBRE O TÍTULO QUE DEI AO QUE AGORA ESCREVO.
Esta imagem aconteceu nas primeiras horas da manhã. Eu estava num quarto à beira da praia e pensei em acordar cedo para fotografar o sol, mas eu estava muito adiantada da hora da alvorada, em horário de verão, porém já se anunciavam luzes que vêm antes do despontar do nosso astro.
Tudo estava escuro e a lua ainda brilhava no céu, mas num cantinho do horizonte aconteceu um fenômeno: o céu ficou vermelho, uma cor forte, muito forte. Ainda não aparecia sol nenhum. Este só apareceu uma hora e meia depois, mas na praia, pelo menos na praia Rasa em Búzios, lá pelas cinco horas da madruga, apareceu um vermelhão que desapareceria em poucos minutos.
Eu acordei e esfreguei os olhos. O céu estava desta cor. Peguei a câmera, coloquei um pano qualquer sobre meu corpo e saí correndo pra praia. Aquele vermelhão rápido, anunciando o sol, era quase irreal. Eu estava totalmente sozinha naquela praia e me via diante de uma beleza estarrecedora.
Não consegui pegar a intensidade do que vi, mas tudo bem. Logo depois ocorreu o normal: o céu ficou pálido, depois começaram as luzes da manhã, depois o sol e depois o clarão dele, que ofusca a minha máquina fotográfica, e quando não tenho condição de fotografar, pois não tenho técnica.
No dia seguinte eu admirei a mesma coisa, mas nem quis fotografar. Acordei muito cedo e simplesmente fiz parte daquela beleza, nada mais.
Eu, que encaro certas rebordosas da vida o tempo todo e que percebo coisas ruins nas pessoas e no mundo, que não consigo me recolher e abro a boca, posso dizer com toda a categoria:
NÃO EXISTE, A MEU VER, NADA MAIOR QUE A NATUREZA PRA ME COLOCAR JUNTO DE DEUS. QUALQUER OUTRA COISA É SUBTERFÚGIO E FOI INVENTADA PELO SER HUMANO. A NATUREZA EM CONSONÂNCIA COM A MINHA VIDA DIZ MAIS DO QUE QUALQUER BLÁ-BLÁ- BLÁ DE QUALQUER UM.
Eu ainda terei que voltar muitas vezes a este céu crepuscular até sentir ao que ele veio e entender o que ele quer me mostrar. Dizem que alguns têm que passar por bons bocados até encontrar Deus. Eu não sei, não... Não me sinto longe DELE em nenhum momento, mesmo quando ELE me dá dificuldades enormes a vencer, porque ao olhar para aquele céu, eu vejo o quanto estou protegida e o quanto minhas forças são reabastecidas.
Este lugar, como outros ALÉM de Búzios, falam de minha infância. Eu retorno décadas atrás. Eu retorno aos mesmos lugares, apesar de modificados – como eu. Volto às minhas raízes. Volto à pureza de minha vida. Eu volto para poder retornar ao presente, acrescida de mais força.
MEUS OITO ANOS (Casimiro de Abreu) Barra de São João (1839 –1860)
Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias Do despontar da existência! - Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar - é lago sereno, O céu - um manto azulado, O mundo - um sonho dourado, A vida - um hino d´amor!
Que aurora, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d´estrelas, A terra de aromas cheia As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, Da camisa aberta o peito, - Pés descalços, braços nus - Correndo pelas campinas A roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo. Adormecia sorrindo E despertava a cantar!
Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! - Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras A sombra das bananeiras Debaixo dos laranjais! Comentários de dois queridos amigos no OLHARES
LUIZ GONÇALVES MARTINS em 07 de fevereiro de 2011
Gostei da foto e o texto! Agora, os seus oito anos fazem tempo, heim!
Resposta de Leila Lage em 08 de fevereiro de 2011
Aos meus oito anos eu era lindinha. Mesmo hoje, com um semblante marcado, com sulcos profundos na face, olhos caídos, olheiras, algumas rugas, eu ainda guardo a cara de criança dos retratos. Talvez algo no meu destino insista em me manter unida ao meu passado.
Veja este meu PPS, hospedado no Recanto das Letras, pelo menos até a data de hoje, e irá entender melhor:
http://recantodasletras.uol.com.br/e-livros/807649
LINA MARANO em 05 e fevereiro de 2011
Fantásticas as cores deste crepúsculo. Sabe que gosto desta palavra... Veja como soa redondo crepúsculo.
Resposta de Leila Lage em 05 de fevereiro de 2011
E foi você quem me ensinou o significado de crepúsculo, lembra? Eu passei a vida sem perceber o meu erro, pois usava a palavra só para o pôr do sol...
Por sinal, eu aprendi muita coisa na minha maturidade. Não digo que foi tardio - digo que foi a tempo.
Leila Marinho Lage http://www.clubedadonameno.com
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 09/02/2011
Alterado em 12/02/2011
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