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Como é bom gostar de alguém
O título engana. Não é um texto sobre o amor de um casal. Tem mais a ver com minha infância.
Sou filha de dona Glória, ou Dona Lola. Para mim ela é a “Dona Menô” mor. Portuguesa, que não tinha sotaque, mais pra carioca da gema, misturada com um temperamento muito parecido com o das nordestinas brasileiras, arretadas. Aliás, ela era lá de cima de Portugal...
Ela nunca voltou à sua terra natal, apesar de ter sido seu sonho, mas este foi interrompido por vários dramas, inclusive de saúde. Apesar disto, eu vi que ela sentia saudade de um lugar que pouco lembrava e todas as suas memórias eu registrei. Acho que quando ela lembrava de Portugal era o momento de lembrar de seus pais, como acontece hoje comigo.
Eu tive a honra de ter nascido através dela e de ter convivido com ela, de ter conhecido o seu “Portugal” adivinhado através das melodias que me embaralham desde que eu nasci.
Quando minha mãe estava triste, ela colocava “Francisco José” na Telefunken de pés finos. Eu aprendi todas as letras e ficava no sofá horas e horas ouvindo as canções e tentando sentir aquilo que minha mãe provavelmente pensava.
Quando ela estava alegre, eu também ouvia músicas portuguesas, geralmente Amália e o tal Francisco, que ela amava. Eu sabia que o dia estava bom ou não dependendo do fado do dia, pois ela calava quando a situação era grave, mas deixava passar as lágrimas escondidas através das canções que ecoavam na nossa casa, como também não fazia alarde em coisas alegres, mas transparecia a felicidade sonoramente...
Como é bom gostar de alguém! Ela sabia disto. Ela passou isto pra mim, não somente na relação familiar, mas em muito mais – em coisas que eu hoje, já madura, ainda aprendo a usar.
Ouçam Francisco José: http://www.youtube.com/watch?v=ESxxAiOEco8
Leila Marinho Lage Janeiro de 2012 http://www.clubedadonameno.com
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 09/01/2012
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