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UMA NESGA DESTE CÉU
Ao fim do dia este é o céu que eu vejo quase todos os dias do ano, enquanto eu trabalho. Quando eu me esqueço de fechar as persianas, ele invade o filtro dos vidros da janela e faz arte, atrapalhando o meu raciocínio sobre a doença de alguma paciente.
Por muitas vezes eu paro o atendimento, abro a janela e, embasbacada, mostro o sol para as pessoas. Elas olham, dão um sorriso, como que afirmando a beleza, e voltam a exigir a minha capacidade profissional... Eu disfarço a minha “ingenuidade” e assumo de novo o posto de cuidar delas.
Só que o sol, antes de ir embora, fica o tempo todo me hipnotizando, querendo conversar comigo, querendo me dizer coisas. Às vezes eu acho que ele me convida a estar na beira da praia para nos entender melhor, mas em outras eu acho que ele só quer me mostrar que estará sempre lá e que eu posso vê-lo; que eu tenho a bênção de enxergar enquanto outros não podem. Eu ainda tenho esta bendita janela para me fazer ultrapassar barreiras. Muitos gostariam de ter uma nesga deste céu, mas não podem, uma vez que estão aprisionados entre quatro paredes, nos quadrados de seus destinos.
Ter fama, ter dinheiro e até ter reconhecimento nesta vida não são coisas tão importantes quanto poder ser amiga deste sol e deste céu, leal parceiro que sempre me acompanhará, a minha proteção.
Leila Marinho Lage
Rio, Maio de 2012 http://www.clubedadonameno.com
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 26/06/2012
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