Clube da Menô

A minha vida só é possível incrementada!

Textos


Dupla personalidade
Capítulo I – O encontro
Este é o primeiro texto saga Dona Menô e Chico.
Novela em dueto com Nickinho, colega nosso do Recanto das Letras.


Oi, amigos. Aqui é Menô!

Cês acham que eu troco muito rápido de namorado? Eu não troco - substituo uma neura por outra.

Quando se é jovem, a gente troca muito, procurando aquele com mais qualidades. Quando se envelhece, a gente troca por aquele com menos defeitos.

Sendo assim, larguei Juvenal, o pára-quedista. O sujeito vivia nas costas de outras e isso não ia dar certo. Substituí por um com o pé mais no chão. Só não imaginava que este tivesse a cabeça na lua, mas tudo bem.

Adoram quando eu descrevo meus namorados, né? O que é? Vocês curtem minhas aventuras ou se identificam com as personagens?

Desta vez, terão uma surpresa: estou namorando um cara com dupla personalidade (ou tripla?). Não chega a ser psiquiátrico. Vamos dizer, diferente...

Conheci o Chico numa feira de automóveis, quando eu fazia um escambo entre meu fusca e um Fiat. O povo da feira é gente fina: são os Pacheco - só dá Passat, Chevett e Corcel.

Lá estava Chico: olhos verdes, cabelo preto. Descendo: corpo sem maiores detalhes apreciáveis, mas uma bunda...

Plagiando Drummond, eu diria: Bunda, bunda, vasta bunda. Pra que tanta bunda, meu Deus?...

Acham que mulher não aprecia bundas? Claro que sim! E de homem. Bunda de homem não pode ser mole, mas, redonda e durinha. E nisto, o homem leva vantagem: mais testosterona, menos gordura, menos celulite, mais músculo. A associação psicológica com outros músculos, Freud explica.

Chico, pelo menos Chico, é um cara totalmente normal: ponderado, mede as palavras, nem tanto, nem tampouco.

Eu me apaixonei no instante em que ele cedeu a sua vez na disputa por um Fiat branquinho, que eu almejava. Ele me deu a vez e eu dei pra ele. Agora o carro está na minha garagem e Chico está na outra.

Fiz duplo bom negócio: Chico é mecânico de automóveis. Tenho um carro menos velho e um otário pra o consertar pra mim. Ele poderá enguiçar e condenar o carro de algum cliente, depois levar para a feira dos Pacheco e abater por um bom preço.

Descobri que duplo também tem sido o comportamento dele. Isso me lembra aquele filme..., com aquele autor..., que foi inocentado e era o assassino... Lembram? Eu não...

Meu namorado é uma mistura de  Chico, Chiquinho e Chicão. Dependendo da hora, ou até interativamente, ele vai do mínimo ao máximo, do oito ao oitenta, do tudo ao nada, do dá ao desce.

Tem sido, ao menos, uma experiência enriquecedora, um compêndio de medicina psiquiátrica.

Aguardem-nos.

Introdução de Chico

A Menô tá me chamando de maluco. Isto é extrapolação pura. Não acreditem nela. A maluca é ela!

Mas, a Menô é dez. Meio tarada em sexo, querendo umas variações esquisitas, uns trecos de filme pornô, com uns acessórios que, sei lá, se na hora vou querer...Mas, ela é jóia!
 
Dizem que ela tá passada, meio gasta. Ela não é nenhuma véinha caindo pelas tabelas ou precisando usar bomba de oxigênio a cada vez que anda mais forte. É só um tanto mais, digamos, experiente que as anteriores...

Ô, Menô., Vvocê me chamava de papa-anjo, mas me diz: Eu lá tive culpa se não conhecia o que era bom antes? Sempre é tempo!

A gente se viu numa feira de carros, batemos um papo, assim, meio mecânico, mas só fomos papear legal no sacolão, lembra?

Eu estava paquerando as donas de casa, quando, na barraca do Sakamura, você apareceu: calça leg, camiseta bordada e um boné ridículo, para se proteger do sol.

Como quem não quer nada, apalpei os tomates (tomate fruta). O Saka fez cara feia e me repreendeu, apertando os olhos, que já são pra lá de apertados.

Disfarcei, olhei pra você, com cara de quem ainda não comeu, e fiz aquela observação inédita dos compêndios paqueris: “Puxa! Que calor, hein?!”.

Você me devolveu um meio sorriso, seguido do famoso franzir de testa do “onde conheço esse puto?”. E sapecou uma resposta, também muito pouco conhecida: “Se faz! Estou melada!”.

Seu carrinho estava lotado de coisa natural: alguns alfaces, duas abobrinhas de pescoço, um pacote de cenoura taludas, mandioca já descascada, branquinha, num plástico. Parece que havia nabos, também; não vi direito. O seu “ato fálico” me dava enjôo.

Carnívoro como sou, chegado a um churrasco (semana sim, outra também) e conhecedor de carnes, fazedor duma picanha recheada de lamber os beiços, fiz piada com suas compras: “Você conhece a do vegetariano que levou a namorada pra traz da moita e comeu a moita? Só a moita?”.

Você deu outro sorriso sem graça, mas me concedeu uma carona no Fiat, que eu deixei você comprar e, aí, você começou com maior a lição de moral: “O senhor come soja?”.

Disse que SÓ JÁ vi no mercado, mas que aquela coisa era transgênica. Eu não sei o que é transgênico, mas me pareceu bem adequado ao papo natureba.

E veio você: “Tem noção de quantas horas são precisas para um pedaço de carne  ser dissolvido no estômago?  Demora 12 horas! Sendo assim, depois do churrasco, sua barriga se transforma num imenso cemitério por um dia inteiro.
 
Imagine picanhas deterioradas, linguicinhas  semipodres, asinhas de frango corroídas, em estado de putrefação...

Você sofre de gases e prisão de ventre? Sabia que quem não come fibras e grãos terá mais propensão a câncer de intestino?”.

Retruquei: “Mas, Menô, todo mundo convida todo mundo para uma churrascada. Alguém já te convidou, alguma vez na vida, para uma chuchuzada ou uma alfaçada?! Aposto que não!”.

Você, para me sacanear, aderiu à brincadeira e sapecou: “Quero ver uma carente em fim de noite se virar com uma peça de picanha ou um filé! Linguicinha ainda vai, mas não tem a dureza nem a textura desejada. Podis crê!”.

Para ser mais elegante, eu disse a palavra mágica, aliás, a frase mágica de Vinícius de Moraes: “Não comerei da alface a verde pétala...”.

E foi neste instante que eu te conquistei. Você adora poesias e Vinícius é seu ídolo.

Eu nem sabia de quem era esta frase. Só me lembro que a li na revista Reader’s Digest e achei muito parecida com meu jeito, mas você deduziu que eu era entendido do riscado.

Pessoal, tem como não se amarrar numa dona dessas? Diz aí, tem?

Agora tamus aí juntos, para contar nossas aventuras nos próximos capítulos.

Texto de Leila Marinho Lage e Nickinho
Rio de Janeiro e Ibitinga, 29 de abril de 2007
http://www.clubedadonameno.com
 



Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 30/04/2007
Alterado em 21/02/2009
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