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Como me inseri(ram) na InternetAprendi a fazer coisinhas no programa Power Point com muita dificuldade, me danando no computador por muitos meses. Depois de entender as mumunhas do negócio, achei interessante continuar criando em cima de tal recurso, dito precário - até porque nenhum cursinho ia me ensinar a criar e desenvolver qualquer coisa. Tudo dependeu de mim.
Lembro que em 2003, eu acho, um amigo me ensinava a mover um mouse e eu achava aquilo tudo muito difícil. Eu não tinha coordenação motora. Ele me dizia que sem computador eu nada seria na vida, Eu o combati com unhas, dentes e cara feia. Dizia que não precisava de nenhum computador pra viver! E, logicamente, não precisava dele, apenas de meu trabalho, de minha cabeça e minhas mãos - a princípio.
Mas me obrigaram a comprar computadores, até mesmo pelas contingências sociais. Mesmo hoje enfronhada de vez na Internet, adoro escrever com as minhas mãos, com uma caneta, caprichando na caligrafia, como também na ortografia. Adoro ler um livro, afagando suas folhas; adoro receber cartas pelo correio; acho muito legal receitar manuscritamente coisas para cada paciente.
Lá no passado recente, uma paciente minha, que hoje é uma amiga particular, Silvana Waldhein de Oliveira, literalmente segurou na minha mão e me levou a uma lojinha pra comprar meu primeiro computador. Foi ela, inclusive, quem me mostrou o must da coisa na época: um pen drive... Uma máquina estava instalada na minha casa, em stand by, e eu não sabia o que fazer com aquele monstro.
Eu me matriculei num cursinho caro pra caramba, perto de meu consultório, pra ensinar computação para “primatas”. É isto mesmo: curso pra primatas, os primários humanos. Foi horrível!
A primeira aula até que foi mais ou menos. Eu estava ao lado de um monte de adolescente. Um professor, com cara de quem só ficava acordado se bebesse café, Coca-Cola e “aditivos”, com olheiras e cabelos enormes, dizia que nossos computadores já estavam ligados. Dei graças a Deus, pois eu não saberia ligar um.
Aí, eu, que já tinha aprendido com um amigo, dono de uma ultrassonografia, a mexer num mouse, comecei a seguir a orientação de um programinha imbecil (naquela época), onde um gênio aparecia e dizia que eu tinha feito algo errado. A computação gráfica deu a nota pra mim no final da aula. De zero a dez, fui classificada com uns sete.
Levei um monte de cartilha pra casa e não entendi absolutamente nada do que eu li a partir de então. Eu, que tinha que consertar pessoas, cortar pessoas, medicar pessoas, salvar as vidas das pessoas, tinha um desafio pior, que era a merda do computador!
Meu curso durou até a segunda aula. Quando eu vi aquele gênio de novo no monitor, mostrando seu dedinho indicador em sinal de não, avisando-me que eu tinha cometido erro grave, quase surtei! Eu me senti em plena década de 70, na ditadura, em cárcere, após uma baita tortura. Levantei daquela cadeira, expandi os braços e gritei em plena sala, dirigindo-me ao professor emaconhado (que podia ser meu filho):
“Chega! Eu tenho que pagar pelo curso inteiro, se eu quiser desistir agora?”.
O cara disse que sim. Fui à secretaria do shopping e cancelei minha matrícula, dizendo que fizessem bom proveito da minha grana, porque eu não ia aguentar um gênio filho da puta me sacaneando.
Minha prima Celise me introduziu profundamente no mundo virtual, depois que eu resolvi pedir ajuda. É por isto que eu sempre digo: se é pra introduzir, tem que ser direito! Ela conduzia minha mão no Paint; ensinou-me a escrever as coisas no Word; fazer um e-mail e conversar com pessoas no Messenger.
Ficávamos a noite inteira naquilo. No dia seguinte a gente tinha que trabalhar. Aí eu realmente entendi por que aquele meu professor tinha cara de vampiro.
Um dia senti segurança de conversar com o meu computador, ainda prematuro na minha casa. Tudo o que eu fazia na parte artística, que sempre me acompanhou na minha vida inteira, seja por vídeos, textos ou palestras, comecei a engatilhar e engatinhar na Internet, naquela noite.
Descobri um monte de gente mandando coisinhas por Power Point. Alguns muito bons e outros completamente miseráveis. Comecei a descobrir a anticultura da Internet e os absurdos que até hoje cometem, que são propagados para as nossas gerações posteriores. Em questão de segundos milhares de páginas são acessadas (ou milhões), tendo conhecimento a muitas informações. Muitas delas estão completamente erradas!
Eu ficava perguntando aos leigos, os espertos, como fazer PPS. Dali por diante apanhei pra burro até conseguir fazer o que eu faço - sozinha, nas madrugadas da vida, depois de um trabalho imenso na medicina. Trabalho maior é conseguir até hoje algo que valha a pena e que fique para sempre, assim como num livro, com muito estudo, com pesquisa, com ética.
Assim surgiu o Clube da Dona Menô, que precede as páginas de relacionamento que temos hoje. Este site foi mexido por vários webmasters, aos quais paguei muito bem para me ajudarem. Alguns foram bons profissionais, outros nem um pouquinho. Hoje eu não precisaria ter este site, mas até conseguir que meu sobrinho, de sete anos de idade, venha à minha casa, eu o mantenho a meio pau.
O que fiz ou faço na Internet posso garantir pra todos vocês que não é tão difícil quanto o meu aprendizado na juventude. Tudo hoje é dado de mão beijada para as gerações atuais, que não precisam pensar e nem fazer tabuada. Colocam na cabeça de jovens que um adulto com 40 anos ou mais é ultrapassado, velho. Nada disto! Quem manipula isto tudo que vivem - e curtem - é muito mais maduro do que imaginam!
Eu tenho 56 anos de idade e espero que o sobrinho, que ganhou um notebook quando nasceu, pra interagir com astros do Basquet, conheça Walt Disney. É só ele pesquisar no Google e passar alguns meses estudando. Depois peço que me venha ensinar a fazer vídeos melhores, mas com a crista baixa, pois eu não consigo mais tempo, paciência ou estômago pra digerir professores malucos, falsos amigos nem gênios virtuais.
Com a internet podemos divulgar cultura, compartilhar conhecimentos, construir uma sociedade muito mais saudável. Depende de alguns: os melhores, os mais inteligentes e estudiosos, os de boa índole, os verdadeiros batalhadores.
Leila Marinho Lage
Fevereiro de 2015
Diálogo do Desconhecido https://www.youtube.com/watch?v=xXGOdT3jzTQ
Em inglês https://www.youtube.com/watch?v=l7VKV4gJ8j8
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 10/02/2015
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