Como em Giverny
Esta fotografia e este texto são pra todos, mas em especial para uma paciente que virou amiga, e que hoje anda triste, logo agora que ela venceu uma doença grave e pode pensar em futuros.
Aliás, falando em doença grave, dita terminal, tenho frequentemente contato com vários testemunhos de ditos milagres. Há muito tempo deixei de supervalorizar doenças e milagres...
Quando um desafio bate à nossa porta, o máximo a fazer é ter coragem. O resto Deus vai dizer. Nunca peçam a Deus pra lhes livrarem de uma doença, e que se cumpra um milagre. Peçam apenas a Ele força pra encarar as coisas!
O destino de todos está traçado, mas qual será o destino de cada um? Quem pode adivinhar? Ninguém! A única coisa que nos resta a fazer é ter uma visão otimista aonde só existem más expectativas.
É nesta hora que ficamos humildes e começamos a dar valor às pequenas coisas da vida, aos pequenos prazeres:
“Carpe diem quam minimum credula postero”. Um trecho dos escritos de Horacio Flaco (65 a.C.- 8 a.C.), poeta e filósofo da Roma Antiga, no livro “Odes”. Aproveite o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã.
Assistam ao vídeo que recomendo, de preferência num momento bem calmo. Não há perfeição aonde existe pressa.
Entendam e, a seguir, voltem ao meu texto:
Quando eu fotografei esta imagem, eu estava num lugar lindíssimo, quando eu desliguei os celulares e virei uma turista de meu próprio pedaço.
Eu estava diante de outro mundo, com uma máquina fotográfica precária nas minhas mãos. Talvez qualquer adolescente, com seu celular potente, fizesse melhor, mas eu não conseguia, no zoom e na definição, captar uma flor de lótus num lago a muitos metros da objetiva.
Eu captava a imagem como um deja vi. Eu já tinha “fotografado” aquilo aqui no Rio de Janeiro... A diferença é que eu me equilibrava numa pirambeira dos infernos, pra conseguir focar. Não existia naquele instante nada mais importante do que registrar uma flor num lago.
Tudo em volta exalava perfume, o perfume da natureza. Mas onde eu vi aquela cena antes, meu Deus?... Quando eu voltei à minha casa, baixando a foto no computador, lembrei dos jardins da casa de Burle Marx. Fui investigar e descobri que naquele “fim de mundo”, o paisagista tinha pisado. Ele bolou aquele lago e eu o tinha adivinhado.
Por outro lado, eu também achei que minha foto, tão mal tirada, lembrava aquelas pinturas impressionistas (e impressionantes) de Monet, do lago de sua casa em Giverny. Também pesquisei e descobri que Burle era fã do pintor.
Eu, sem a menor formação acadêmica sobre arte, vi através de minha lente um tantinho da história. Eu fiquei muito feliz, e com tão pouco!
Burle morreu do coração, de velhinho. Monet também, apesar de ter sofrido muitos anos com deficiência visual. Robin Williams, o grande ator do vídeo que envio, se enforcou em agosto de 2014.
Eu, o que eu faço? Fotografo aquilo que me agrada. Em hipótese nenhuma me preocupo com o meu final. Há muita vida pela frente. Há muitas fotografias ainda pra eu conseguir.
Leila Marinho Lage