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NEUROSE NOS EXAMES GINECOLÓGICOS

Aqui venho pra alertar sobre o comportamento de pelo menos 80% das minhas pacientes particulares (ou de plano de saúde). Não o que acontece num posto de saúde ou hospital público, mas acredito ser a realidade de todos os médicos em seus consultórios. 

Em ginecologia nós, especialistas, conseguimos resolver pelo menos metade dos casos nos quais nos deparamos, logo de cara, mas a outra metade necessita de exames complementares. Dependendo do que aparece à nossa frente, depois de profunda concentração e um minucioso exame físico, começamos a raciocinar e programar uma série de exames. Cada caso é especial. Cada pessoa é diferenciada. A medicina e as condutas não são receita de bolo que caem bem em qualquer forno...

Antes de prosseguir com este comentário, eu me lembrei de um recente “comercial” na televisão, sobre um medicamento de um laboratório muito conceituado, ao qual eu todos os dias assisto, um dos milhares de exemplos do que é a injustiça do poder farmacêutico e a medicina.

Aparece uma mulher dizendo que está com candidíase e se queixa de um LEVE incômodo nas “partes”, recomendando um óvulo vaginal em dose única, e tudo resolvido. E como muitos medicamentos que deixaram de ser éticos e passaram a ser de uso público, sem controle, a propaganda diz, em segundos, que se os sintomas não regredirem, devem procurar um médico...

Aí entra a ginecologista. Aí entram as minhas observações:

1- Ginecologia é uma especialidade muito difícil. É preciso experiência e exame detalhado. É preciso formação! Hoje até enfermeira, apoiada pelo Governo, dá uma de gineco. Muita gente está morrendo (ou vai morrer sem necessidade) por conta desta política.

2 – Enquanto acharem que as mazelas ginecológicas podem ser resolvidas em propaganda de TV e rádio, com o olho capenga da ANVISA e da política de saúde pública que nos rege, a qual faz programas estatísticos pra justificar o ABSURDO nas condutas da “saúde da mulher”, vamos continuar vendo o gado sendo esterilizado em massa, sem critério; os cânceres (de mama e colo do útero) sendo detectados em fase avançada; gestações de risco evoluindo para o óbito materno e infantil.

3- Para piorar a situação, hoje ninguém quer saber de ler ou estudar realmente. Ninguém que ouvir a opinião de um profissional capacitado. Vão direto para a Internet, lêem meia hora sobre assuntos de saúde, apavoram-se, trocam os pés pelas mãos e se sentem catedráticos, ao se depararem com um médico. Aí a coisa pega...

4- Alguns profissionais de saúde incompetentes contribuem para o descrédito da classe. O povo tenta se proteger deles, aleatoriamente tentando conhecer sobre seus casos. Quando esses pacientes chegam à frente de um médico de verdade, já estão cheios de informações pela metade, de receitas de bolo solado.

É a coisa mais rotineira na minha vida uma paciente jogar à minha frente seus resultados de exames, querendo que eu me atente para um certo resultado que ela “descobriu”. Ela se intromete no meu raciocínio, na minha atenção, tentando me direcionar para o que ela quer que eu veja. E dou o sinal de alerta:

- EU pedi os exames. EU sei muito bem como analisá-los! Sossega a periquita e deixe-me trabalhar!

Ela, inconformada, insiste:

- Você não vai entender! Eu já vi aqui que este exame está fora do padrão! Eu já li sobre isto. Estou nervosa com este exame aqui!

A mulher coloca um monte de papel em cima do prontuário dela, onde eu estou escrevendo; puxa de minha mão o que eu estou lendo e me exige que preste atenção ao que ela quer, pois o resto ela sabe...

Não tenho paciência com quem não me respeita e não se respeita:

- Pó pará! Para por aí! Se você quer conversar comigo no mesmo nível que eu, viva 35 anos em ginecologia e depois venha conversar de igual pra igual, ok? Fora isto, você tem duas alternativas: fique quietinha enquanto eu tento cuidar de você ou saia pela porta afora e bata cabeça com a turminha do babado!
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 09/07/2016
Alterado em 09/07/2016



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