Amigos, aqui é Dona Menô.
Convoco todos os meus amigos biólogos, geneticistas, médicos, químicos, biocientistas, veterinários, nutrólogos e nutricionistas, assim como as donas de casa, os feirantes e comerciantes para me ajudarem a casar. Dizem que a gente pega o homem pela boca, mas o meu pretendente vai ser um peixe muito difícil de pescar...
Vou relatar o que aconteceu num almoço que eu organizei para meu novo namorado, em que convidei algumas pessoas da família - gente “normal" que nem eu – para conhecê-lo.
O príncipe é natureba, não come carnes, raramente ovo, odeia glúten e acha que lactose mata. Ele tem alguma coisa parecida com TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) com higiene de alimentos, e se acha entendido na gastronomia mundial. Consegui driblar situações, mas a minha grande dúvida ficou a respeito do agrião. Então, vamos começar:
Propus um menu eclético. Quem comesse normal, teria um prato, e o meu namorado (e eu), outro. A entrada para meus parentes foi com biscoitinhos, queijos e muitas pastas, acrescida de salgadinhos maravilhosos lá da padaria Rainha do Méier. Para meu amor eu fiz uma saladinha de agrião com manga cortadinha e gergelim por cima. Pra requintar a coisa, nem usei tigelas, mas, sim, casquinha de polvilho assada, em formato de coração...
O prato principal não foi o problema, não, pois eu fiz duas lasanhas: uma normal, com molho à bolonhesa (para minha família), e outra de espinafre, sem glúten, sem lactose, sem porra nenhuma (uma coisa horrorosa) – só pra ele, a qual eu tive que comer. Acontece que o problema não foi este. O namorado, enquanto comia a lasanha de plástico, perguntou pra mim qual era a origem do agrião da salada. Aí começava o meu drama.
AGRIÃO MALDITO
Eu amo agrião. Enquanto pessoas tomam Valium pra se acalmar, eu como cabinhos de agrião. Para ingeri-los tomo todos os cuidados que devo tomar com as verduras e hortaliças: lavo-os em água corrente, folhinha por folhinha, cabinho por cabinho, e depois coloco a verdura em imersão com água filtrada e hipoclorito de sódio por uma hora ou mais. Depois eu jogo fora esta água e deixo de molho com água filtrada até sair o cheiro de água sanitária.
Uma amiga minha, professora de biologia, disse que esta antissepsia não serve, pois os enteroparasitas e as bactérias entram nos cabinhos do agrião, onde nenhum desinfetante chega. Portanto, as folhas estão limpas, mas o resto está contaminado.
Comprei no mercado o agrião orgânico, mas orgânico significa não conter agrotóxico. O agrião continua sendo cultivado na terra, onde pode conter microorganismos nocivos. Aliás este agrião não tem gosto de agrião. Eu acho até que o que dá gosto à verdura é justamente o agrotóxico, não é possível... Se a verdura for cultivada longe da terra, pela técnica hidropônica, aí é bem menos provável haver parasitas intestinais, bactérias e fungos.
Eu não sei onde comprar agrião hidropônico no Rio de Janeiro. Aí, quando meu namorado perguntou onde comprei aquelas folhas, eu disse que vieram direto de um cultivo da faculdade de engenharia agrícola da Unicamp. Eu nem sei se o pessoal de lá cultiva agrião hidropônico, mas se são meus colegas, deviam começar o plantio rapidinho, pois eu não posso passar por mentirosa.
A sobremesa foi um sucesso. Para meus parentes fiz mousse de chocolate, e para meu namorado eu fiz uma salada de morango, laranja, e gobi berry importado das montanhas do Tibet, com cobertura de creme de leite de cabras gregas.
...Mas vocês querem saber de uma coisa? Assim que eu me distraí, meu primo ofereceu pra ele o resto do mousse de chocolate, cheio de gordura hidrogenada. O sujeito comeu tudinho, e depois me perguntou se eu tinha chá verde.
Eu me vinguei: “CLARO QUE SIM! Uso muito quando tenho diarreia toda vez que como meu agrião...”.
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 22/04/2017
Alterado em 22/04/2017