Os óculos e a perda
Um telefonema, uma relação que acabou.
Jogo a toalha. Estou cansada... Deixo escorregar pelas mãos a vida que nuca vou poder ter.
Olho pra minha casa e só vejo poeiras. Para os outros está limpíssima...
Tento limpar o que não se vê.
As camisolas, caprichosamente arrumadas e cheirosas, vão ficar no fundo da gaveta.
Minha mesa traz o peso dos meus dias. Os óculos em cima da conta de telefone aumentam a lista de nossas conversas. Dezenas de celulares contando segundos de ligações não atendidas ou eternas meia-horas de frustrantes diálogos.
Perto das contas, o castiçal que enfeitou jantares, vídeos de tempos bons e jornais que se acumulam e não serão lidos.
Terminei o que nem comecei. Tentativas em vão de ser feliz. Audácia de ousar um amor que nasceu e vai morrer em mim.
Meu lugar agora é perto dos óculos que aumentam o valor das contas,
que fazem crescer minha incerteza e meu descaminho.
Passo pelo interruptor, que esconderá meus sonhos, e apago as luzes.
Preciso enxergar melhor... Vou colocar meus óculos, mas hoje eles só me dão a visão, não o rumo.
Amanhã pego aqueles jornais e jogo fora - serão reciclados.
Minha vida também...