Clube da Menô

A minha vida só é possível incrementada!

Textos

HOW CAN I GO ON?...

Tenho 60 anos. Sou de uma privilegiada geração que esteve na intercessão da TV em cores, dos hippies, da pós ditadura, do pouso na Lua, do advento da Internet doméstica, das mais modernas técnicas em saúde e tecnologia.

Minha geração conseguiu e consegue unir o passado, o presente e, quiçá, algum futuro, vislumbrando ápices e derrotas na sociedade mundial... Sou o retrato, pasmo, de tantas personalidades que morreram por AIDS, por overdose de drogas, anciãos que se vão (porque viveram muito e hoje morrem por câncer e tantas doenças da idade) e por jovens que estão doentes psicologicamente, apesar de corpos sãos.

Sou da geração que em todos os dias se descobre que alguma pessoa foi baleada, explodida, envenenada, ameaçada, subornada etc - não por guerras somente, mas pelo tráfico de drogas e armas, ou pelo terrorismo, pelo ódio ou pelo poder de empresários; por esquemas criminosos que envolvem muitos países, beneficiando alguns e deixando na sarjeta aqueles que realmente sustentam este mundo, que trabalham, que se sacrificam, que estudam, que não dormem sonhando, apenas descansando por algumas horas, para acordarem já lutando contra as adversidades ao redor!

Sou da geração que constata crianças morrendo de fome num país imenso e rico, mulheres sendo agredidas e assassinadas por seus parceiros, filhos sendo estuprados pelos pais ou padres... Geração do suborno, da inversão de valores, da pouca ética, da injustiça, da ignorância sendo alimentada arbitrariamente, para os ditos poderosos subordinarem milhares de pessoas ao caos, à falsa categoria de cidadã, mas submissa, apenas cumpridora de suas obrigações civis...
Sou da geração que não se conforma por não existir realmente democracia, uma vez que não me dão opções de governantes confiáveis. E eu tenho que voltar (por direito e dever) em pessoas em quem não acredito, de quem eu tenho medo. Tenho que votar por eliminação, como num jogo de azar, numa roleta russa. E depois vão dizer que eu fui a responsável pelo voto errado! E o eleito ainda vai se vangloriar em algum momento que ele foi ESCOLHIDO!

Ninguém com cultura, ninguém com consciência, caráter, boa índole, vai achar que está votando por CONVICÇÃO, CONFIANÇA, IDEALISMO, POR PRINCÍPIOS. Sabemos que não! A gente faz igualzinho àquela mulher que leva surra do marido e diz: “Ruim com ele, pior sem ele...”.

“Por que estou escrevendo esta crônica?” - pensei eu, aqui. É claro que não tenho a menor pretensão de influenciar ninguém, até porque isso é antipático, inconveniente, desagradável. Estou apenas fazendo uma breve abstração de meus dias e correlacionando a uma música que Montserrat Caballé, minha deusa, que morreu hoje, cantou com o Freddie Mercury, “HOW CAN I GO ON?”.

Eu quis ouvir a canção de novo, pois, apesar de dizerem que é um dueto cafona, para mim foi um dos eventos musicais mais importantes na história musical e cultural de todos os tempos.

Chorei, pois a música me reverte ao meu momento, à véspera de “votar” em alguém...

Leila Marinho Lage
Rio de Janeiro, Brasil, 6 de outubro de 2018

https://www.youtube.com/watch?v=qbUo0wdEd4k

 
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 06/10/2018



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