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Textos

1 - Gatos - Daktari

Quem tiver paciência de ler até o capítulo VI, em ordem, vai entender minha vida nos últimos anos através da história de minha gata.

É uma coisa meio debochada, mas tem fundamento, e muito...

Churchill sempre estava com seu gato nas reuniões importantes. Roosevelt era um idiota ao lado de seus gatos. Até Clinton, também idiota, se rebaixava com seu gato... Não sei qual foi a personagem da história mundial que não se levantava da cadeira enquanto seu gato não acordasse sobre seu colo... Mas, aí, também, já é demais, né?

Talvez nem tanto...

Nise da Silveira, uma psiquiatra brasileira, reconhecida até internacionalmente, familiarizada com as imagens do inconsciente e que trabalhou durante sua vida toda com esquizofrênicos, era uma amante de gatos e os tinha em grande número em casa. Até escreveu um livro sobre eles, o qual é lindo. Talvez ela tenha tido tantas experiências espirituais e psicológicas com gatos quanto teve com humanos.

Gatos estão na história no mesmo tempo que se conhece a humanidade, a partir do momento que estes felinos se domesticaram e formaram raça própria. O misticismo e as religiões estão povoados de histórias de gatos, com muitas crendices, muito preconceito, muita admiração e muita repulsa.

Quem cria um gato TEM que estudar sobre eles, pois milhares de particularidades, totalmente diferentes dos cães, por exemplo, existem. Não se cria um gato - você é criado por ele; você é movido por ele; você é comandado inconscientemente por ele, se deixar sua alma descuidada.

Dizem que os solitários possuem gatos... Sei não, mas acho que isto é uma crendice também... Tá certo que cuidar de zil gatos, ainda mais em confinamento, numa casa ou apartamento, é algo assim dantesco e que só mesmo alguém muito pirado pra fazer isso. Por outro lado, quem conhece a trajetória da procriação deste animal e do que ele nos passa, entende que as pessoas até abdicam de seu conforto em prol destes seres surreais. O certo é ter consciência de não cuidar descuidando destes bichos, que são instintivamente livres e independentes.

Mas, eu quero falar de Clarence, uma gata incidental na minha vida, que me ensinou coisas que nem minha família me passou. Não que minha família não preste (é igualzinha a todo mundo), mas eu me vi nesta gata e com ela eu experimentei coisas que jamais em outra época eu pude fazer - talvez pelo momento de minha vida.

Cuspir pra cima... Era isso que me diziam. Eu ODIAVA gatos! ODIAVA!!! Para mim gato era um bicho vagabundo de rua, insano, sujo, alergênico, traiçoeiro, desleal, egoísta, meio idiota.

Por falar em alergia, eu tenho alergia a gatos e até a cães, mas adoro os dois, mesmo tendo verdadeiros choques anafiláticos com eles... Eu saio batida da frente de uma loja para não comprar um e fico de olhos fechados quando vejo um abandonado na rua, o que me dá um nó no peito.

Principalmente gatos possuem proteínas estranhas na saliva e, como se lambem muito para limpar seus pêlos, eles possuem sempre material muito alergênico nas patas, na boca e no corpo. Eu fiquei 12 anos com alergias mil por causa desta gata... Era um tal de empolotar o corpo que era uma desgraça, inclusive ao dar banho nela. Eu ficava o dia todo com as mãos e os pés coçando, perebas na pele e uma asma infernal, o que me levou a tomar por dois anos medicação diariamente...

Aí, vocês perguntam: Mas, por que esta doida fazia isso?! E eu respondo: Meu instinto maternal e uma profunda empatia com um animal, que para mim tinha alma. Aí, voltam a perguntar: "Por que, então, ela não adota crianças???" E eu digo: Porque eu não sou doida tanto assim!
 
Minha tarefa neste mundo não é mais cuidar de crianças nem de animais. Para se adotar um animal, ou até uma criança, a gente tem que ter saúde, disposição, grana e traquilidade. Não tenho algumas destas coisas...

Acham que colocar na mesma situação um animal e uma criança é muita ousadia? Digo que não... Se não fosse Clarence, talvez eu tivesse desejado a morte em algumas ocasiões - tanto a minha, quando a de outras pessoas. Através dela eu representei a salvação de minha alma e, se Deus esteve comigo em algumas situações de desespero, Ele colocou este animal em minha vida para se fazer presente.

Passo, a seguir, algumas histórias de Clarence, que nada mais é que minha própria história.

Leila Marinho Lage
Rio, 24 de Janeiro de 2008
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 24/01/2008
Alterado em 21/02/2009
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