Clube da Menô

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4 : Meu bobó - chegou a hora da verdade...

Mandioca para ser cozida tem que ficar macia de ponta a ponta. Coloquem os pedaços na água temperada com sal a gosto. Mesmo que não salguem direito, nem se esquentem. Vão precisar temperar de novo depois.

A panela tem que ser grande. De preferência, dividam em duas panelas. Não deixem passar do ponto, pois se estas queimarem, vão ficar amargas. Aliás, existem umas mandiocas aí que são lindas, cheirosas, macias etc e tal. Quando a gente vai comer, cara, são nojentas! É contrato de risco, não tem jeito... E não é em todo lugar você vai encontrar alguém lhes oferecendo uma amostra pronta, de mão beijada, né? 

Esqueça da mandioca depois de cozidas. Deixem-nas quietas esfriando. Já compraram o camarão? Não?! Ferrou...

O camarão tem que ser o cinza médio. Não é necessário camarão grande. O pequeno só serve pra enganar a gente: são baratos mas, também, não prestam pra nada. Quem quer comer, também quer ver, admirar. A média nunca decepciona - nem tanto, nem tampouco.

A quantidade de camarão para um bobó de umas seis pessoas, deve ser de dois a três quilos. Tem gente que espinafra o anfitrião só porque ficou catando os camarões dentro do bobó. O bobó tem que mostrar ao que veio: muito camarão. Como este bobó vai render, e vocês vão colocar mais água no dia seguinte, cada vez mais haverá menos camarão, entendido?

Pra não terem trabalho, comprem camarões já descascados e limpos, mas levem as cabeças. A gente pensa que a cabeça de camarão não serve pra nada. Que isso?... As cabeças são sempre úteis.

Peguem as cabeças e cozinhem em água. Não precisam gastar sal. Depois de frias, triturem num liquidificador e coem o caldo. Aí, sim, as cabeças já deram o que tinham que dar e podem ser jogadas fora. O caldo é que é o importante.

Agora vem a hora dos temperos. Não compraram? Voltem à feira rapidinho. Comprem coentro (uns dois ramos), cebolas (umas três grandes), alho (uns cinco – vão ser amassados), tomates (uns cinco – vocês deverão queimar a pele dele no fogo e as retirar). Podem substituir tomates naturais por uma lata de molho de tomate – não, extrato. Podem ser mais antinaturais ainda: Acrescentem uns três quadradinhos de tempero concentrado de camarão ou de bacalhau. Destes que dizem dar câncer na gente.

Nunca usem estes potes de alho amassado em conserva. Aquilo é um perigo pra saúde... Pra quem não sabe descascar alho (que linda fonética....), a solução é comprar um ramo de galhinhos do alho, com broto e tudo. Têm um gosto mais ativo que o próprio alho e são difíceis de serem encontrados.

Se tiraram a pele do tomate, descascaram a cebola e amassaram o alho, o caldo da cabeça de camarão e o aipim já estão até gelados. Façam o refogado em azeite ou óleo. Primeiro dourem a cebola; depois acrescentem o alho; esperem dourar um pouco e depois juntem o tomate e o coentro . Coloquem dois pacotinhos de tempero que dão câncer na gente.

Agora chegou a hora da verdade... Podiam ter feito isso um dia antes... Peguem as mandiocas cozidas e coloquem aos poucos, pouco a pouco no liquidificador, misturando o caldo da cabeça de camarão. Podem complementar com água, também aos poucos. A consistência deste caldo deve ser de mingau. O aipim (mandioca, macaxeira) vira um grude, uma cola, uma coisa horrível, se ficar muito espesso. Mas nunca deixem ficar um caldo muito fluido. Bobó aguado é coisa de pobre! Somos pobres mas não perdemos a pose. Nada de enganar seu convidado com sopinha de bobó, ok?

Conseguiram retirar as fibras das hélices do liquidificador? Lutaram com o mixer? Queimaram a fiação dos aparelhos? Tudo bem... Na próxima tentativa sairá certo.

Mandioca tem fibras e estas fibras demoram pra serem trituradas. Então, se deixaram o caldo sem bolotasm nas estão com fiapos, retirem-os com uma escumadeira ou coem.

Misturem o refogado ao mingau de aipim e triturem também.

Lavem os utensílios logo, antes a gororoba que sobrou seque nas panelas e no liquidificador. Senão, verão o quanto uma mandioca dá trabalho pra ser retirada.

Tudo na panela misturado? Agora peguem uma garrafinha média de leite de côco. Quem mora em outro país vai se danar pra encontrar. Aqui existe em cada esquina.

Chegou a hora de temperar definitivamente com sal. Depois de tanto trabalho, pelo amor ao bom Deus, não assassinem o bobó com muito sal, tá? Como leite de côco já é meio adocicado, o sal entra por último. O ideal é fazerem meio insosso e quem quiser que se mate mais um pouco pulverizando sal.

Tudo pronto? Não! Quem gosta de azeite de dendê (que eu odeio), pode colocar até dar o sabor (horrível) desejado. Eu prefiro azeite de verdade.

Camarões lavados e limpos? Então, peguem uma panela, coloquem muito óleo e deixem esquentar bem. Os camarões, secos e descascados, devem ser meio fritos, só pra dar cor. Cuidado pra não colocarem água dentro do óleo, senão, sairão chamuscados da cozinha para um hospital. A fritura é coisa rápida. Se colocarem pouco óleo e este não estiver muito quente, os camarõees vão cozinhar apenas. É como se fizessem batatas fritas.

Levem a maçaroca ao fogo novamente. Terminem de cozinhar os camarões nela. Deixem uma meia hora tomando gosto antes de servirem. para reesquentar, é preferível o miroondas ou o forno. Muitas vezes no fogo direto, o bobó queima nas beiradas.

Podem fazer o prato no dia anterior e deixar na geladeira ou freezer. Assim, terão tempo de arrumar a casa e os colchonetes, para que a turma dorma depois do almoço.

Salve-se quem puder.
Beijos da Dona Menô
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Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 12/03/2008
Alterado em 21/02/2009
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