Clube da Menô

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2: Meu bobó - depois da física


"Bem..." (como fala Mamede Ali Ahmad Kamel Harfouche), depois da aula de física que tive com meu amigo, passarei a minha receita de bobó de camarão.

Não adianta fazer bobó light. A única coisa leve que vai ter neste dia é piriri, se seu organismo não estiver preparado... Não se preocupem: não chegará a ser uma vingança de Montesuma.

Aconselho fazerem dieta e ginástica por uma semana antes, e continuarem por um mês depois, combinado? No dia, não façam nenhum exercício – até porque vai dar uma lombeira desgraçada.

Para os amigos lusos que me leem, saibam: bobó por aqui não é aquilo, tá? Apesar de o odor poder lembrar.

Antes da receita, que escrevo em outro capítulo, aconselho servirem apenas com arroz. Vai dar tanto trabalho que não sobrará tempo para maiores acompanhamentos. Uma saladinha de folhas é o máximo que devem fazer. Acompanha qualquer vinho que quiserem... Bobó foi inventado por escravos africanos, portanto, não sabiam o que era vinho.
 
Este manjar dos deuses ébanos começou a ser saboreado no estado da Bahia e daí para todo o Brasil, que é rico em aipim (macaxeira, mandioca),  principal ingrediente do bobó, fora o camarão...

Uma vez que a coisa está mesmo calórica, podem fazer qualquer sobremesa. Quem comeu bobó direito, não vai ter espaço pra mais nada. Mas aconselho algo tipo salada de frutas ácidas, com adoçante – sempre vai haver alguém dizendo que está de dieta depois do bobó... As frutas cítricas ajudam na digestão de comidas pesadas e, certamente, precisarão de uma empurradinha no estômago nas 10 horas seguintes a esta refeição.

Não gosto de leite de dendê. Aquilo lá tem gosto de gasolina. Eu prefiro carregar no azeite, de preferência o português. 

Características do bobó de camarão:

Japonês não poderá usar o pauzinho no meu bobó, nem beber na canequinha, como fazem com alimentos pastosos. Bobó tem que ser servido quente e tomado de colher. Se misturarem com arroz até dá pra comer com garfo. Mas neste bobó o pauzinho não entra... E eu me vingo dos japas porque nunca consegui comer com os paus deles - só colocando elástico na ponta, mesmo assim, muito desajeitada. Comida quente no estado da Bahia é algo apimentado. Meu bobó tem é calor mesmo. Dá até bolha na boca se não tiver cuidado.

Para ser politicamente correta, apesar de ficar ótimo, não coloco pimenta nenhuma. A gente nunca sabe se os convidados têm hemorróidas. Ninguém vai chegar pra você e dizer: "Não posso comer por causa de minhas hemorróidas”. Apenas dirão que não gostam de pimenta, entenderam? Ser anfitrião é deixar a pimenta à parte, na mesa. 

A pimenta pode será malagueta, maravilhosamente picante, ardente e queimante. Particularmente, eu acho que pimenta do reino é uma boa. Consegue ser tempero aromático, é saborosa e realça o sabor dos pratos, ao contrário de outras pimentas, que acabam com qualquer sabor, adormecendo a língua.

Sabiam que a pimenta é ardida para ela se proteger dos animais que tentam as comer? O problema é que certas aves a comem e nem ligam. A pimenta não tem ardume nenhum em seu interior. Ela só tem seu veneno numa película logo abaixo da superfície, e que se espalha rapidamente para seu corpo inteiro – tanto o corpo da pimenta quanto corpo de quem a comeu.

Mexicano e baiano cairiam de boca num bobó apimentado, mas o resto dos seres humanos cuidam com certo carinho dos seus trechos finais do tubo digestório.
Por falar nisso, não se fala mais tubo digestivo (ele não se autodigere). É tubo digestório mesmo. Tubo digestório vai da boca até o último orifício que todos temos no corpo (homem e mulher). Por isso mesmo dizemos que quem tem ele, tem medo - todos nós temos medos...

Segue no terceiro capítulo do meu bobó.

Menô se despede
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Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 12/03/2008
Alterado em 21/02/2009
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